Factos poderosos destes 45 anos respeitantes ao PS

Dar maioria absoluto ao PS é dar-lhe carta branca para agir sem os tais “constrangimentos”, ou seja, para agir de acordo com os seus múltiplos interesses partidários.

Para podermos julgar o papel do ao longo destes 45 anos de vida democrática vale a pena ter em conta o que aconteceu ao PS após ter governado só ou em coligações, nomeadamente com o CDS e o PSD; sim, o PS até 2015 sempre se entendeu em termos governamentais com o CDS ou com o PSD.

O exercício de memória é saber como reagiu o eleitorado ao primeiro governo contranatura do PS (Mário Soares) com o CDS (Freitas do Amaral). Um verdadeiro desastre para o PS em termos eleitorais.

Além disso deu origem a um processo que levaria a direita ao poder com a formação da AD (PSD, CDS e PPM).

Após o falhanço da AD, o PS casou com o PSD (o bloco central) e o resultado foi igualmente muito mau para este partido e para o país, levando de novo a direita ao poder.

Só em 1999, no limiar este milénio, o PS voltou ao governo com António Guterres que por falta de um deputado fez um acordo “encoberto” com um deputado do CDS de Ponte de Lima.

O resultado foi a fuga de Guterres e a chegada de novo da direita ao poder com Durão Barroso.

Veio a hora de Sócrates com uma maioria absolutíssima e governou como D. Dinis, fez tudo quanto quis. Quase. Perdeu muito eleitorado. Quis governar sozinho em minoria, mas de facto apoiado (por muito que custe ao PSD e CDS) nos partidos da direita.

Os resultados dos governos do PS foram até 2015 desastrosos para o próprio PS. O que levava o PS aos braços da direita só lhe trouxe dissabores; e quando governou sozinho foi o que se viu com Guterres e pior ainda com o todo-poderoso José Sócrates. Portugal era do PS, isto é, do engenheiro, graças à fantástica maioria absoluta. Há factos poderosos, mesmo no meio da estridência da campanha eleitoral.

Em 2015 Costa mudou o rumo às alianças do PS. E sucedeu o que está a suceder - o PS em vez de naufragar vai crescer. Nestas circunstâncias pode afirmar-se que para além dos méritos do PS a política levada a cabo por PS com apoio parlamentar do PCP, do BE e dos Verdes foi boa para o país e pelos vistos muito boa para o PS.

Outrora sozinho ou mal acompanhado, o PS, após os governos onde esteve só ou mal acompanhado, perdeu sempre uma significativa votação.

Vale a pena então perguntar por que motivos aparecem certos dirigentes do PS a clamar por maioria absoluta?

Baseado nestes 45 anos de vida democrática estes apelos só podem resultar da vontade de ter o poder todo com a correspondente abertura de possibilidade de acesso a centenas e centenas de cargos e tornar o aparelho governamental totalmente cor-de-rosa; sendo que essa gula se revela superior à vontade de continuar a dar força ao PS, e que foi a política de entendimentos à esquerda. Há quem prefira a defesa do egoísmo interesseiro em detrimento dos interesses do próprio PS .

Dar maioria absoluto ao PS é dar-lhe carta branca para agir sem os tais “constrangimentos”, ou seja, para agir de acordo com os seus múltiplos interesses partidários.

Entre um PS prestigiado por ter escolhido governar convergindo com os partidos das esquerdas e um PS preocupado em se assenhorear de tudo, o eleitorado decidirá não trocando o certo pelo incerto - obrigando o PS a negociar com as esquerdas para prosseguir o caminho que deu certo.

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