Afinal era uma história interessante

Tendo em atenção a estimativa de distribuição de deputados, poderemos estar perante um cenário em que um só partido poderá não ser suficiente para, com o PS, perfazer a maioria absoluta

A sondagem que hoje publicamos indicia um estreitar da diferença nas intenções de voto entre PS e PSD face ao conjunto de sondagens publicadas, indicando as nossas estimativas agora 37% para PS e 30% para PSD.

Estas eram umas daquelas eleições que pareciam sem história. O PS ganharia, provavelmente sem maioria absoluta, havendo desta apenas ténue probabilidade se o PSD caísse com estrondo para perto dos 20% de votos. Portanto, o mês de setembro começou com duas linhas de interpretação para o que poderia vir a ser a eleição de 6 de outubro. Por um lado, compreender até que ponto poderia um alargamento da diferença entre PS e PSD conduzir à maioria absoluta do PS. Por outro, no caso de inexistência dessa maioria, compreender de que modo os diferentes cenários ofereceriam condições de governabilidade através de acordos pós-eleitorais entre partidos, estimando-se no início de setembro que seria muito provavelmente suficiente o acordo entre o PS e um outro partido (CDU, BE ou mesmo PAN) para garantir a maioria dos deputados na Assembleia da República.

Os resultados desta nossa sondagem e de outras realizadas nos últimos dias assinalam um estreitamento do intervalo entre PS e PSD, indicado uma cada vez menor probabilidade de maioria absoluta. Resta-nos, portanto, analisar possibilidades de maiorias parlamentares através de acordos pós-eleitorais. No entanto, antes dessas contas, sugiro atenção particular para o contexto de realização desta sondagem. As entrevistas foram realizadas entre quinta-feira e domingo passados, tendo por isso captado o impacto imediato do “caso Tancos”. A dúvida que se coloca é se terá a sondagem medido um embate forte do caso nas intenções de voto que ao longo desta semana desvanecerá ou se, em sentido contrário, a sondagem captou as implicações do caso ainda numa fase inicial. A resposta a esta pergunta só a teremos no domingo.

Em eleições legislativas os resultados eleitorais não costumam ser muito diferentes das estimativas propostas por sondagens realizadas a uma semana da eleição. Por esse motivo, poderá fazer sentido discutir os resultados das sondagens mais recentes como sendo uma boa previsão do que acontecerá no dia 6. E assim sendo, tendo em atenção a estimativa de distribuição de deputados, poderemos estar perante um cenário em que um só partido poderá não ser suficiente para, com o PS, perfazer essa maioria absoluta. Ou, retificando, apenas dois partidos parecem poder cumprir essa meta: PSD e BE. E como tem sido na relação de forças entre PS, PSD e BE que tem estado o foco deste já largo período de campanha e pré-campanha…

No entanto, sabemos que eventos extraordinários, e a gestão política que os vários partidos fazem desses eventos, podem alterar por completo a correspondência normalmente verificada entre as últimas sondagens pré-eleitorais e os resultados. A acusação de um ex-ministro é caso raro, principalmente em período de campanha, podendo ser neste sentido lido com um evento extraordinário com implicações relevantes para a eleição. O evento (a acusação) já aconteceu, mas a gestão política do caso ainda continua. Ou seja, esta última semana antes das eleições ainda tem interesse para a história.

Sugerir correcção
Comentar