Um momento de publicação independente: Latitude do Tempo

Fanzines, edições de autor, livros de artista — nesta rubrica queremos falar de publicação independente. Sara Brandão apresenta Latitude do Tempo. O próximo podes ser tu.

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Apresenta-nos a tua publicação.
A Voz dos Avós parte da minha experiência com os utentes da Casa de Lordelo. Nos últimos meses, fui voluntária na Casa, onde me receberam como neta e me contaram histórias do seu passado. Perante isto, escrevi um conto, Latitude do Tempo. Foi escrito de modo a representar cada utente da Casa, preservando de certo modo a sua identidade. Por isso, muitas personagens representam mais do que uma pessoa, apresentando várias características notórias para que os utentes retratados se revejam nelas e se sintam ouvidos e reconhecidos. Ainda que o seu teor seja fictício, a narrativa percorre com verdade o passado destas pessoas. O meu objectivo seria o de criar um objecto de combate ao tempo e ao tédio, que favorecesse a nível visual e mental os utentes da Casa de Lordelo e, por isso, paginei o livro com eles e escrevi-o dividido em pequenos capítulos, para que a leitura não fosse cansativa.

Quem são os autores?
Eu, Sara Brandão. Desenvolvi este trabalho no âmbito do projecto final da licenciatura em Design de Comunicação em Belas Artes, no Porto.

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Do que quiseste falar?
De questões relacionadas com a terceira idade, como o isolamento e a solidão, e da falta de um design inclusivo para as dificuldades da mesma. No entanto, a publicação A Latitude do Tempo é um conto baseado nas memórias dos utentes da Casa de Lordelo, onde fui voluntária, e aborda os temas de um modo poético. Assim que escrevi a narrativa, para além do afecto incontornável que desenvolvi por ela e pelas pessoas que lhe dão voz, senti que a sua mensagem não podia viver só na Casa de Lordelo. O conto é uma mensagem de socorro e apelo às gerações mais jovens para que não deixemos esquecida a terceira idade no nosso país, que, como nós, também é pátria e merece dignidade a vida inteira. Perante isto, paginei uma edição de bolso da narrativa, com o intuito de reduzir custos de impressão, para as gerações mais novas. Embora o conceito seja outro, apropriei-me do estilo gráfico utilizado na publicação principal, para manter o máximo de coerência entre as duas. 

Questões técnicas: quais os materiais usados, quantas páginas tem, qual a tiragem e que cores foram utilizadas? 
A publicação para o Lar e Centro de Dia Casa de Lordelo tem 142 páginas, todas impressas a preto em papel munken, excepto na capa, que utiliza a cor azul. A edição de bolso foi toda impressa a preto, com papel munken e capa com papel kraft, e tem 67 páginas.

Onde está à venda e qual o preço?
Para já, da edição para o Lar, fiz 15 exemplares, que foram quase todos oferecidos ao Lar. Já a edição de bolso pode ser comprada através do Instagram por 10 euros e vem acompanhada por um print de uma ilustração do conto feita minha querida amiga e fantástica ilustradora Luísa Coelho.

Porquê fazer e lançar edições hoje em dia?
Considero importante, embora complicado, lançar edições de autor hoje em dia, porque é uma forma muito fácil de termos total controlo sobre o objecto final. Para mim, a maior dificuldade é gerir os lucros com os preços de produção e, também, a publicidade. Sinto que tenho de andar sempre a “chatear” as pessoas pelas redes sociais.

Recomenda-nos uma edição de autor recente lançada em Portugal.
Tenho dois amigos que lançaram edições de autor independentes muito bonitas este ano. O pequeno livro de poemas Refeição, do Gonçalo Vieira, e o livro de desenhos e poesia da Teresa Arega, Dor de Burro.

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