Inflação já é negativa há três meses seguidos

Tendência de variação negativa dos preços em Portugal manteve-se em Setembro. Perspectivas para a actualização das pensões em 2020 tornam-se mais baixas.

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Paulo Pimenta

A taxa de inflação em Portugal manteve-se este mês em terreno negativo, algo que já acontece pelo terceiro mês consecutivo.

De acordo com a estimativa rápida de evolução dos preços durante este mês publicada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação homóloga em Portugal situou-se em -0,1%, exactamente o mesmo valor registado em Agosto. Em Julho, a inflação já tinha caído para valores negativos, quando passou de 0,4% para -0,3%.

A variação homóloga dos preços, utilizando a metodologia harmonizada com o resto dos países da União Europeia foi de -0,3% em Setembro, uma descida face aos -0,1% de Agosto.

Este prolongamento da variação negativa dos preços face ao mesmo mês do ano passado faz com que a taxa de inflação média dos últimos doze meses continue a tendência de descida que se verifica ininterruptamente desde o passado mês de Abril. Em Setembro, este indicador passou de 0,6% para 0,5%. Em Abril estava em 1%.

Uma consequência imediata desta descida de preços ocorre pelo facto de algumas actualizações de rendimentos estarem indexadas ao valor da inflação registado em Portugal. É o caso das pensões, cuja actualização em 2020 depende do valor da variação média de preços excluindo a habitação a registar em Novembro deste ano. Com os dados agora conhecidos para Setembro, em que este indicador caiu de 0,51% para 0,37%, fica a expectativa de um valor em Novembro bastante baixo.

Em relação às rendas, o valor da actualização em 2020 já ficou definido com o valor da inflação excepto habitação de Setembro, que foi de 0,51%,

Portugal é, neste momento, um dos países da zona euro que mais se destaca pelos valores baixos (e mesmo negativos) que se registam na evolução dos preços. Mas o cenário de inflação baixa é dominante na generalidade da Europa e tem vindo a acentuar-se nos últimos meses.

Este é o principal motivo pelo qual o Banco Central Europeu decidiu durante este mês reintroduzir diversas medidas de estímulo monetário, como a descida das taxas de juro ou o regresso das compras líquidas de dívida pública. O objectivo do BCE para a inflação é um valor “abaixo, mas próximo de 2%”, algo que há já muito tempo não acontece.

Uma taxa de inflação muito baixa ou mesmo negativa, como a que agora se regista em Portugal pode, à primeira vista, ser considerada positiva para as populações, já que ficam com a possibilidade de, com um mesmo nível de rendimento, adquirir em média mais bens e serviços. No entanto, se uma economia regista de forma clara e persistente uma tendência de descida dos preços, existe o risco de queda na chamada “armadilha da deflação”, em que, perante a perspectiva de descida de preços, as empresas e as famílias adiam investimentos e consumo, o que pode conduzir a uma contracção da economia.

De igual modo, para economias com elevados níveis de endividamento como a portuguesa, uma inflação negativa pode tornar mais difícil aos agentes económicos fazerem face aos encargos da dívida que assumiram.

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