Kurz vence eleições austríacas e pode escolher com quem governar

ÖVP confirma favoritismo e ganha legislativas antecipadas deste domingo com 37% dos votos. Extrema-direita (16%), sociais-democratas (22%), verdes (14%) e liberais (8%) são hipóteses para Governo de coligação.

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Sebastian Kurz voltou a vencer as legislativas e foi aplaudido pelos militantes do ÖVP Reuters/LEONHARD FOEGER,Reuters/LEONHARD FOEGER
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Kurz era chanceler até Maio. Governo caiu após escândalo que envolveu a extrema-direita EPA/CHRISTIAN BRUNA
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Apoiantes de Kurz celebram vitória do ÖVP EPA/CHRISTIAN BRUNA
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Euforia junto dos apoiantes dos Verdes, que regressam ao Parlamento Reuters/LISI NIESNER
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Rendi-Wagner, líder dos sociais-democratas, saudada por militantes do SPÖ Reuters/BERNADETT SZABO

As primeiras projecções do resultado das eleições legislativas antecipadas na Áustria, que se realizaram este domingo, atestam o que as sondagens já vêm dizendo há muito e dão uma vitória clara ao Partido Popular (ÖVP), do conservador Sebastian Kurz, com 37,1% do total de votos. A confirmarem-se estes números, o antigo chanceler austríaco poderá escolher com quem quer governar. Em cima da mesa está uma de três possibilidades: outra coligação com a extrema-direita; um acordo a três, com verdes e liberais; ou a reedição do bloco central que governou o país durante décadas, com os sociais-democratas – que devem ter o pior resultado da sua história.

Segundo as sondagens à boca das urnas do SORA Institut, o Partido Social Democrata (SPÖ) foi a segunda força política mais votada, com 21,8%, seguido do Partido da Liberdade (FPÖ) – formação com passado nazi, com quem Kurz esteve coligado durante pouco mais de um ano até à queda do executivo –, com 16%. Verdes (14%) e Nova Áustria – liberais – (7,8%) completam a lista dos partidos mais votados.

“O ÖVP ainda é, em grande medida, o Partido de Kurz. É o único partido onde o seu líder é a principal razão para se votar. [O resultado] é um mandato muitíssimo forte para Kurz, que basicamente pode fazer o que quiser”, analisou no Twitter o politólogo holandês Cas Mudde. “O SPÖ já só tem a sua tradicional base de esquerda. Não tem um líder inspirador, temas de campanha ou novo sangue. Praticamente não beneficia de ter feito oposição a um fracassado Governo de direita”, acrescentou.

A Áustria é governada desde Maio por um executivo tecnocrata, nomeado pelo Presidente Alexander Van der Bellen, na sequência do escândalo que fez cair o Governo ÖVP-FPÖ, onde Kurz, de apenas 33 anos, servia como chanceler. 

O chamado “caso Ibiza” envolveu o líder da extrema-direita – na altura vice-chanceler –, Heinz-Christian Strache e o vice-presidente do partido. Ambos foram filmados a conspirar naquela localidade espanhola, com uma suposta empresária russa, sobre a aquisição de uma parte de um jornal austríaco para melhorar as perspectivas eleitorais do FPÖ e sobre outros negócios duvidosos, destinados a financiar ilicitamente o partido.

Tendo em conta os números conhecidos, a polémica teve precisamente o efeito contrário ao que o partido nacionalista desejaria – perdeu 10% do seu eleitorado, em comparação com as legislativas de 2017. Ainda assim, nada impede que Kurz, cuja popularidade não foi afectada pelo “caso Ibiza”​, e o novo líder do FPÖ, Norbert Hofer, se venham a entender para restaurar a coligação, até porque os estudos de opinião anteriores à eleição deste domingo apontavam esse cenário como o favorito da maioria dos eleitores. 

A principal linha vermelha traçada pelo dirigente conservador é a inclusão do ex-ministro do Interior no novo executivo. Herbert Kickl caiu em desgraça junto do ÖVP depois de ter autorizado a realização de buscas aos serviços secretos austríacos – decisão que levou à exclusão da Áustria do mecanismo de partilha de informações entre os Estados-membros da União Europeia e que também resulta da desconfiança europeia das ligações entre o FPÖ e a Rússia.

O afastamento de Kickl pode ser a peça desbloqueadora para o que os analistas austríacos acreditam que venham a ser longas semanas de negociações entre as várias forças políticas.

No horizonte de Kurz pode estar uma outra solução, mais excêntrica, para obter a maioria no Conselho Nacional – a câmara baixa do Parlamento da Áustria, onde têm assento 183 deputados –, através de uma coligação com outros dois partidos: os Verdes e a Nova Áustria. 

Se as conversas com os liberais podem ser fáceis para o ÖVP, o diálogo entre conservadores e ecologistas prevê-se menos fluído. Isto porque há bastantes anticorpos junto dos respectivos dirigentes e eleitores, em relação a uns e outros. Os Verdes não perdoam a aliança de Kurz com a extrema-direita, ao passo que os elementos do ÖVP ligados ao sector económico e agrícola olham com muita desconfiança para as propostas do partido dirigido por Werner Kogler.

A verdade é que, após uma campanha muito marcada pelo debate sobre as alterações climáticas, o partido ambientalista conseguiu uma recuperação sensacional. Depois de há dois anos terem tido apenas 3,8%, ficando fora do Conselho Nacional, os Verdes quase quadruplicam a sua percentagem de votos desta vez.

Ainda que os números e a tradição sugiram o contrário, mais difícil será um acordo entre ÖVP e SPÖ, de Pamela Rendi-Wagner. A “grande coligação” tem sido a solução mais frequente do tabuleiro político austríaco – governou a Áustria durante mais de quatro décadas, desde o final da Segunda Guerra Mundial –, mas acabou por ser rejeitada por Sebastian Kurz em 2017.

A vitória tão incontestável dos conservadores, aliada ao péssimo resultado dos sociais-democratas – o pior desde 1945 – sugerem que nem o ex-chanceler quererá revitalizar o bloco central, nem o SPÖ pretenderá abandonar a oposição e a servir de muleta ao ÖVP.

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