É verdade que o rendimento nunca cresceu em Portugal como agora?

Mário Centeno fala de sequência inédita de crescimento do rendimento per capita de mais de 4% desde 2015

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LUSA/ANDRÉ KOSTERS

A frase

“O rendimento per capita português cresceu mais do que 4%, ano a ano, desde 2015. Nunca esta sequência de crescimentos anuais se tinha verificado em Portugal” Mário Centeno, em entrevista à Lusa

O contexto

Os jornalistas da Lusa questionaram o ministro das Finanças sobre se era possível falar de “uma revolução” na economia, se as taxas de crescimento do PIB continuavam a ser relativamente moderadas em comparação com as registadas no passado e Mário Centeno defendeu os resultados dos últimos anos, utilizando um indicador poucas vezes usado no discurso político: o rendimento per capita português.

Em vez do habitual crescimento real do PIB, o ministro recorreu aos dados mais recentes apresentados pelo INE – que a seguir a uma actualização de base revelaram uma revisão em alta do crescimento da economia em 2016, 2017 e 2018 – e utilizou como métrica o rendimento nacional bruto (RNB), em termos nominais e levando em conta a dimensão da população.

A diferença entre o mais habitual PIB e o RNB é que, enquanto o primeiro mede a riqueza obtida dentro do território português (quer por residentes, quer por não residentes), o segundo se concentra nos resultados registados (em Portugal ou no estrangeiro) pelos agentes que vivem efectivamente em Portugal.

O facto de usar o crescimento deste indicador per capita faz também com que se leve em conta a evolução da população portuguesa, que tem vindo a diminuir, procurando desta forma medir o rendimento médio de cada residente em Portugal.

No actual cenário de diminuição da população, é mais difícil a economia crescer rapidamente. O indicador usado por Centeno leva isso em consideração, enquanto o crescimento real do PIB não.

Os factos

Desde 2015 até agora, como afirma o ministro, o RNB por residente em Portugal cresceu sempre mais do que 4%. Os novos números do INE revelam uma variação deste indicador de 4,4% em 2016, 5,3% em 2017 e 4,4% em 2018. E na série divulgada pelo INE esta semana, que apenas recua até 1999 não é possível encontrar outro período de três anos em que tal tenha acontecido.

No entanto, usando séries anteriores à entrada de Portugal no euro, rapidamente se encontram períodos de tempo iguais e superiores a três anos, em que o crescimento do rendimento per capita supera os 4% em todos os anos. Logo no final dos anos 90, entre 1995 e 1999, registaram-se quatro anos consecutivos de crescimento deste indicador acima de 5%. Este foi um período de forte crescimento económico e de inflação mais alta do que agora para Portugal.

Em resumo

Utilizando este indicador, que leva em conta o efeito negativo para a economia provocado pela diminuição da população, os últimos anos revelaram realmente desempenho inédito da economia portuguesa no período pós-euro. O ministro exagerou, quando disse que “nunca” tal tinha acontecido na economia portuguesa.

Sim, Talvez, Não

O ministro está correcto quando afirma que “o rendimento per capita português cresceu mais do que 4%, ano a ano, desde 2015”. Mas quando diz que “nunca esta sequência de crescimentos anuais se tinha verificado em Portugal”, parece estar a utilizar apenas a série mais recente do INE, que apenas inclui o período desde a entrada de Portugal no euro.

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