Jovens desvalorizam riscos quando relação sexual não é ocasional

Dados congregados a partir de diferentes estudos e relatórios apontam para um aumento de comportamentos de risco e também das infecções sexualmente transmissíveis entre os jovens.

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Os dados existentes apontam para comportamentos de risco entre os jovens ADRIANO MIRANDA

É suposto serem a geração “mais informada e protegida”, no que diz respeito à sexualidade, mas os dados compilados a partir de diferentes estudos indicam que os comportamentos de risco entre os jovens portugueses têm aumentado. Entre eles a forma como recorrem ao preservativo, que é amplamente utilizado numa primeira relação sexual, mas cujo uso baixa drasticamente nos contactos sexuais posteriores.

Isto acontece, segundo um comunicado conjunto de sociedades científicas e associações que trabalham as questões da contracepção e da interrupção voluntária da gravidez, porque “a percepção do risco pelos jovens face ao VIH e/ou outras infecções sexualmente transmissíveis se reduz a situações de sexo ocasional ou quando consideram não existir exclusividade sexual num relacionamento, considerando não haver risco quando estão num relacionamento que assumem como exclusivo”.

A propósito da comemoração do Dia Mundial da Contracepção (assinalado esta quinta-feira) e do Dia Mundial do Aborto Seguro (celebrado este sábado) a Sociedade Portuguesa da Contracepção, a Associação Para o Planeamento Familiar, a AS – Aventura Social e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima congregaram um conjunto de dados que pretendem “sensibilizar para a importância de unir esforços e estratégias” que permitam melhorar os resultados em saúde sexual e reprodutiva. O cenário traçado por um conjunto de informação que consta de diversos relatórios e estudos realizados nos últimos anos não é tranquilizador.

Dados de 2018 sobre o uso de preservativo por jovens entre os 18 e os 24 anos indicam que 78,8% dos que já tinham iniciado a vida sexual (e que correspondem a 89,6% dos inquiridos) usaram preservativo na primeira relação sexual, mas apenas 48,9% o fez na última. A esta informação juntam-se outras que indicam que, entre 2010 e 2016, nos universitários entre os 18 e os 35 anos, aumentaram as gravidezes indesejadas (de 4,1% para 6%), as infecções sexualmente transmissíveis (de 3,3% para 5,2%) e a realização de uma interrupção voluntária da gravidez (de 3,2% para 4,5%).

Um outro estudo, também de 2018 e dirigido a adolescentes do 8.º, 10.º e 12.º ano, até indica que 77% dos inquiridos não tiveram relações sexuais, mas, entre os que assumiram ter tido, 34,1% disse não ter usado preservativo na última relação sexual e 14,5% admitiu ter praticado sexo em situações associadas ao consumo de álcool ou drogas.

Os autores do comunicado lembram ainda que, apesar de haver “um ligeiro decréscimo” em Portugal dos números totais de casos de infecção VIH e de SIDA, “a situação continua a ser preocupante, sobretudo nas faixas etárias mais jovens, por cerca de um terço dos infectados com VIH/SIDA tem menos de 30 anos e cerca de 16% tem entre 15 e 24 anos”. Também as infecções sexualmente transmissíveis estão a aumentar no país, “verificando-se taxas de gonorreia e clamídia genital e sífilis cada vez maiores, particularmente em adolescentes, o que é preocupante”.

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