Faltas para os alunos grevistas garantidas, mas escolas estão com a causa do clima

Estão marcadas concentrações em pelo menos 30 localidades portuguesas. Greve climática global não conta com a adesão das federações e associações académicas do ensino superior.

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Já se realizaram duas greves climáticas, uma em Março e outra em Maio Nelson Garrido

Não é pela circunstância de a greve climática desta sexta-feira ser “global” e não apenas estudantil, que as escolas mudarão a sua posição: a maioria irá marcar faltas aos alunos que não comparecerem às aulas neste dia, mas se as ausências forem justificadas pelos encarregados de educação muitas estão dispostas, à partida, para aceitarem as justificações.

Foi o que sucedeu nas anteriores greves climáticas realizadas em Março e Maio passados. Quando um aluno “falta às aulas, as escolas não têm outra forma de actuar que não seja marcar falta”, adianta José Eduardo Lemos, director da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim.

É também uma forma de se protegerem para eventuais incidentes, justifica Rui Madeira, director da Escola Artística António Arroio, em Lisboa. Ao não marcar falta, assume-se que o aluno se encontra na escola e se ele não está e “é atropelado, o que é que acontece?”, questiona este professor.

Na António Arroio os alunos que faltarem nesta sexta-feira “vão ter falta”. “Não quero ser o director fixe, que alinha no nacional-porreirismo. Até porque lutar dói e os alunos têm de ter noção disso. Como têm de ter espírito de sacrifício para enfrentar o que não lhes é favorável”, afirma Rui Madeira.

José Eduardo Lemos aponta no mesmo sentido. Os alunos que fizerem greve nesta sexta-feira terão falta, avisa. Quanto à aceitação das justificações é algo que ainda irá ser ponderado, embora este director refira que nunca as aceitou se o motivo é uma greve: “Faz parte da educação para a cidadania assumir que se perde algo por uma causa. É o que se passa com os trabalhadores que fazem greve: perdem um dia de vencimento.”

“Se as faltas forem justificadas pelos encarregados de educação, serão relevadas porque existe uma sensibilidade para esta causa”, garante a directora do Agrupamento de Escolas de Alvalade, Dulce Chagas. Dos agrupamentos de escolas do Restelo, em Lisboa, Rodrigues de Freitas e Clara de Resende, no Porto, entre outrtos, vem a mesma garantia. Já a Escola Secundária Camões, em Lisboa, será a excepção. “Sexta-feira à tarde o número de aulas é muito reduzido, pelo que não haverá faltas”, indica o director João Jaime.

Os directores contactados pelo PÚBLICO não esperam, contudo, que esta questão seja um problema para muitos alunos, já que os sinais de mobilização para a greve desta sexta-feira nas escolas têm sido escassos. Contribuirá para isso o facto de muitos dirigentes das associações de estudantes do secundário, que geralmente são do 12.º ano, terem já transitado para o ensino superior e ainda não foram substituídos, refere o director da secundária Camões.

E quantos aos professores? A Federação Nacional de Professores, que é a maior estrutura sindical docente, bem como o Stop-Sindicato de Todos os Professores, entregaram pré-avisos de greve para esta sexta-feira. “Temos recebido muitos telefonemas de professores, mas como não somos nós que estamos a organizar a greve é difícil ter noção da mobilização que existe”, esclarece a assessora de imprensa da Fenprof, frisando que o pré-aviso de destinou apenas “a permitir que os professores que o queiram possam participar na greve sem terem faltas injustificadas”.

Movimento académico de fora

No ensino superior, as federações e associações académicas optaram por não oficializar o seu apoio à greve desta sexta-feira.  “A causa do ambiente também é a nossa bandeira, mas a greve às aulas nesta altura nãos e enquadra nos nossos planos”, justifica o presidente da Federação Académica do Porto, João Pedro Vieira, referindo contudo que algumas das associações de estudantes que integram a organização têm actividades previstas para esta sexta-feira.

Embora também não tenha oficializado a sua adesão à greve, a Associação Académica de Lisboa disponibilizou “apoio logístico” às acções programadas por alguns dos seus associados. É o que se passará, por exemplo, com a concentração marcada para o campus de Benfica do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), convocada pelas associações de estudantes das escolas do IPL e que conta também com o apoio da própria instituição, indica o vice-presidente da AAL, Rúben Sousa.

Para já estão confirmadas concentrações em 30 localidades espalhadas um pouco por todo o país. À excepção de Lisboa, em que o protesto está marcado para as 15 horas, quase todas as manifestações foram agendadas para o final da tarde, resolvendo-se deste modo o problema das faltas às aulas ou ao trabalho.

E dicas não faltam para quem quiser estar presente ou mesmo para os que não podendo estão de coração com a greve climática. A Amnistia Internacional, por exemplo, propõe que nestes casos se faça um cartaz (há várias sugestões) e se publique depois uma fotografia nas redes sociais. Algumas das frases sugeridas pela AI para serem pintadas a negro: Humanos pelo planeta;Salvem os humanos; O NOSSO futuro nas VOSSAS mãos.

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