Insípida. Interessante

Os candidatos berraram pouco e fizeram menos demagogia.

Foi uma campanha que só confirmou e nada trouxe de novo. Os partidos estabelecidos são o que são. Os pequenos partidos da fragmentação e do populismo, das esquerdas e das direitas, ou de ambas, parecem uma vez mais condenados.

Onde está o interesse desta campanha? Onde está a novidade? Apesar de ainda sujarem as cidades e de não limparem depois o que fizeram, os partidos gastaram e desperdiçaram menos do que habitualmente. É seguramente um avanço.

Os debates na TV ainda servem para alguma coisa? Sim. Obrigam os candidatos a um módico de contenção e preparação. Talvez não tenham influência no voto. Mas ajudam a compreender pessoas e caracteres. Se não houver debates, ainda é pior.

Os canais de televisão têm sido isentos? Não. Favoreceram os partidos parlamentares, para lá do razoável. Favoreceram o partido do Governo e as suas muletas.

A campanha eleitoral serve para alguma coisa? Sim, mas pouco. Em geral e salvo situações excepcionais, o essencial está decidido, como é o caso este ano. Mas não haver campanha é pior. É necessária, para ajudar a perceber. Mas pouco útil quanto à decisão de voto.

Ainda falta tempo para acabar a campanha propriamente dita. Mas só os burocratas e os ingénuos acreditam que a campanha se resume a duas semanas. A campanha começou há muito tempo, primeiro como debate e comentário, depois como propaganda, seguidamente como pré-campanha, uma invenção portuguesa. Na verdade, estamos a falar de uma longa, muito longa campanha, com anúncios, inaugurações, almoços, viagens, reuniões, passeios, oportunidades de fotografia, frases soltas à saída ou à entrada do que quer que seja.

Foi uma campanha pouco estridente. Interessante por isso mesmo. A palavra de ordem parece ter sido a de resistir à tentação de dizer algo de diferente e de correr com a onda e deslizar com o vento. O grande esforço de quase todos os partidos foi o de tentar não dizer asneiras. Nem dizer algo irremediável, nomeadamente sobre a Europa, a NATO, as Forças Armadas, os impostos, a Justiça e a corrupção. Todos se reservam para depois e, por isso, evitam compromissos, mas desmultiplicam-se em declarações vagas e indignadas sobre os pobres, as mulheres, os velhos, o racismo, os refugiados, o clima e os animais.

Outra novidade: os candidatos berraram pouco e fizeram menos demagogia. A fúria do PCP estava contida no salão de festas da associação recreativa. A radicalidade do Bloco adequou-se à sala de aulas. O PS falou como se estivesse num workshop promocional. O CDS parecia uma start up. E o PSD tentou esconder a algazarra que vai lá dentro.

Três partidos, o PCP, o BE e o CDS partilharam um objectivo e defenderam uma causa essencial, prioritária, a de lutar contra a maioria absoluta do PS! Não foi a de ganhar as eleições! Não! Foi a de impedir a maioria absoluta. A verdade é que, assim, todos contribuíram, de modo indelével, para que o PS a tenha. É o que veremos. Ele que lhes agradeça.

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