Olá, aqui mora gente. Faça pouco barulho, sim?

Campanha contra o excesso de ruído em Lisboa, prevista há três anos, está finalmente na rua. A associação que a propôs à câmara congratula-se por o assunto estar agora mais presente na agenda.

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Um dos mupis que estão nas ruas DR

“Olá. Chamo-me Vigília. Sou sua vizinha, pelo menos esta noite.”

Desde quarta-feira que esta frase pode ser lida numa das bases de copos que a câmara de Lisboa espalhou por bares do centro histórico com o objectivo de lembrar aos clientes que o divertimento deles pode ser o pesadelo de outros.

“Vivo neste bairro desde que nasci, com os meus filhos e os meus netos. Tal como você, também eu me apaixonei por Lisboa e não a troco por nada”, prossegue o texto. “Mas há uma coisa que não me importava de mudar nesta cidade. Gostava que fosse um pouco menos ruidosa. Só um pouco, pode ser? É muito fácil a pessoa esquecer-se, mas a verdade é que aqui também mora gente. Se está a ler isto, é porque também depende de si.”

Três anos depois de a associação Aqui Mora Gente ter ganhado um projecto do Orçamento Participativo (OP) contra o excesso de ruído em Lisboa, está finalmente na rua a campanha de comunicação que desde então estava prometida. Chama-se “Quando o ruído entra em casa, os residentes vêem-se na rua” e é composta por bases de copos, cartazes, mupis e anúncios em jornais.

Não se admire, por isso, se encontrar nas ruas a imagem de Vigília Lopes ou de Catarina Teixeira – que recentemente estiveram muito envolvidas na discussão sobre o Miradouro de Santa Catarina – sentadas num sofá com uma mesa ao lado coberta por um naperon. A campanha recorre a moradores reais do Bairro Alto, Santa Catarina, Bica e Cais do Sodré, que em pequenas descrições se apresentam e fazem o mesmo pedido de menos barulho. Ela é “dirigida sobretudo aos clientes dos bares, restaurantes e alojamentos locais dos bairros históricos com maior oferta de diversão nocturna”, informa a câmara de Lisboa em comunicado.

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Para Isabel Sá da Bandeira, da associação Aqui Mora Gente, há uma coisa a lamentar. “Não associaram muito a campanha à plataforma”, diz ao PÚBLICO, referindo-se à possibilidade de denunciar casos de ruído excessivo no site Na Minha Rua, o ponto fundamental do projecto vencedor do OP.

Desde o fim de 2018 que essa denúncia é possível, colocando a queixa na categoria “Fiscalização de estabelecimentos comerciais – horário e ruído”. Segundo dados fornecidos pela autarquia ao PÚBLICO em Junho, até àquela data havia 546 queixas.

“Há imensa gente a sofrer diariamente com o ruído”, afirma Isabel Sá da Bandeira. Entre 2016 (ano em que ganharam o OP) e agora, esta residente do Cais do Sodré nota que as pessoas que procuram esta zona para diversão nocturna não são as mesmas e que até houve “uma diminuição de gente”. No entanto, critíca, “como não há uma política firme da câmara e da polícia, mudam as pessoas e nada mais”.

A moradora encontra, ainda assim, aspectos positivos no lançamento desta campanha: “Fala-se no assunto.” Há uns anos, lembra, os residentes destas zonas estavam praticamente sozinhos a falar disto, agora a consciência aumentou. “Que a câmara seja obrigada a lidar com isto”, deseja Isabel Sá da Bandeira.

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