Colapso da Thomas Cook ameaça travar expansão da Fosun

A falência da Thomas Cook está a criar vários entraves à empresa chinesa Fosun, dona da Fidelidade e accionista do BCP. A crise do grupo turístico serve de alerta para o gigante chinês na sua estratégia de expansão global.

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Reuters/BOBBY YIP

Com o arrefecimento da economia mundial e a guerra comercial entre Estados Unidos e China a alterar o cenário de aquisições no exterior e a penalizar o consumo dos chineses, o colapso do principal investimento da Fosun na Europa, a Thomas Cook, pode significar uma travagem nos planos de expansão da empresa, segundo os analistas contactados pela Bloomberg. E a desvalorização da moeda chinesa também não ajuda o cenário do conglomerado chinês. 

Em Julho, a Fosun fez uma injecção de capital significativa na agência turística e era expectável que a Thomas Cook assegurasse o fecho de Verão com alguma tranquilidade. A empresa chinesa participou num aumento de capital de 1100 milhões de dólares (mais de mil milhões de euros), mas recusou a injecção de mais capital. Os credores exigiam 249 milhões de dólares (aproximadamente 227 milhões de euros) no curto prazo. Com a recusa por parte dos chineses, a empresa acabou por entrar em liquidação. Este não foi o único investimento que os chineses fizeram no turismo, tendo também adquirido a marca de resorts Club Med em 2015.

Em comunicado à AFP esta segunda-feira, 23 de Setembro, o Grupo Fosun mostrou-se “desapontado” pela “Thomas Cook não ter sido capaz de encontrar uma solução viável para a proposta de recapitalização com outros parceiros, bancos, investidores e outras partes envolvidas”.

Brock Silvers, director-geral da empresa de consultoria de investimentos Kaiyuan Capital em Xangai, disse à Bloomberg que a estratégia de investir na Thomas Cook não foi a melhor. “Thomas Cook estava muito endividada”, com um “modelo de negócio ultrapassado”, acusou, acrescentando que neste episódio a Fosun deu sinais de “desconcentração e indisciplina”.

A Fosun é das últimas grandes empresas chinesas a apostar em negócios fora do continente asiático, numa altura em que outras como a HNA, ex-detentora de participação na TAP, têm vindo a vender activos para reduzir as dívidas. No final de Junho deste ano, segundo os dados compilados pela Bloomberg, a Fosun tinha uma dívida acumulada de 28 mil milhões de dólares, que compara com uma posição de liquidez de 22 mil milhões de dólares. No primeiro semestre deste ano, os lucros ficaram perto dos mil milhões de euros.

E os problemas da empresa na economia europeia não se ficam pela Thomas Cook. Na Grécia, a retalhista Folli Follie, na qual é a segunda maior accionista, está a atravessar uma crise após ver os números das vendas do ano passado postos em causa por um fundo de investimento de alto risco.

Andrew Collier, director-geral da Oriental Capital Research Inc. em Hong Kong sublinha, citado pela Bloomberg, que a empresa chinesa “está a enfrentar” uma fase de “desaceleração” e que “é um momento difícil para se expandir”. O mesmo diz Brock Silvers: “Os grupos chineses enfrentam um crescente cepticismo e os potenciais parceiros agora vão ficar pouco confortáveis depois desta aposta da Fosun na Thomas Cook”.

Em Portugal a empresa chinesa tem investimentos importantes. É dona da seguradora Fidelidade, que comprou à Caixa Geral de Depósitos (CGD). E é também a maior accionista do banco BCP (com 27,25%) e dona da Luz Saúde.

A Fosun teve o melhor resultado semestral de sempre nos primeiros seis meses do ano. Segundo a empresa, os cinco maiores contributos para as receitas vieram das unidades Fosun Pharma, Yuyuan, Fosun Tourism Group, Fosun Insurance Portugal (cujas receitas cresceram 50%, sem revelar o valor) e Peak Reinsurance, que juntas representam 83% do total. A Fosun diz que o sector financeiro teve um bom desempenho devido aos resultados do BCP, com 13% do crescimento dos lucros atribuídos aos accionistas, para 170 milhões de euros.

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