Costa, a padeira de Aljubarrota que promete afastar o Diabo

António Costa acena com o receio que as medidas como a redução dos passes sociais “voltem para trás”, caso não haja Governo do PS.

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Francisco Romão Pereira
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A pá de Brites de Almeida tinha outros propósitos e outras consequências. A de António Costa, qual padeira de Aljubarrota contra a austeridade, conseguiu “tirar do forno o pão, os rendimentos, o emprego, para matar a descrença no futuro, o pessimismo em relação ao país, o desespero que levou tantos a emigrar. E também poderia ter morto o Diabo, mas ele, prevenido, já tinha ido para outras paragens”.

A frase poética é de quem lhe faz um elogio em terras algarvias, o escritor Nuno Júdice, e serve de mote à matança do belzebu por António Costa. “Connosco o Diabo não vem, mas connosco o país não volta a andar para trás”.

Retirando as comparações e a poesia a esta prosa, resta a política e o socialista, que desistiu de atirar ao Bloco de Esquerda logo no primeiro dia, continua a lançar umas críticas ao PSD, mas sobretudo a acenar com a desgraça que seria um regresso a um país sem “estabilidade”. Para isso serve-se de uma conversa, não presenciada por jornalistas por não terem sido avisados de mudanças de agenda, que teve nas ruas de Faro com espanhóis. Os vizinhos que, lembra, já vão para quatro eleições em quatro anos enquanto por aqui foram quatro anos de… “estabilidade”. “Há muita gente a fazer contas sobre as eleições, as eleições não se perdem nem se ganham em sondagens, só nas urnas, quem vai votar vota no partido que deseja que governe. Quem quer mais quatro anos de estabilidade com um Governo do PS deve votar no PS”, disse Costa, naquela que foi a única alusão à tese de que será perigoso deixar o PS dependente do Bloco, 

O Diabo tem muitas peles e em campanha acaba por, cedo ou tarde, entrar nos discursos. Para Costa o Diabo que poderia aparecer seria aquele que iria desfazer algumas das medidas mais importantes do Governo, incluindo a redução dos passes sociais. Referindo-se directamente ao “doutor Rui Rio” que criticou a medida, Costa apontou: “Não dr. Rui Rio, quem está em Portimão, Faro, Lagos, Tunes, e Vila Real de Santo António não está em Lisboa nem no Porto e tem direito aos passes sociais”.

A medida é acarinhada e Costa usa-a sempre que pode e é sobretudo a sua maior arma para a caça ao voto: “É preciso dar força ao PS para que estas medidas não andem para trás, porque conhecemos bem aqueles que diziam que não era possível, porque fazendo tudo isto vinha aí o Diabo. E como têm tanto medo do Diabo, nada nos garante que, chegando ao poder, para evitar o Diabo, não façam tudo isto andar para trás e os passes desapareçam e os salários voltem a ser cortados e os impostos aumentados e as pensões de novo cortadas”.

Lá fora também há sinais que podem comprometer o percurso, avisa. “Pode haver conflitos comerciais que têm consequências para a economia”, lembrando os problemas entre os Estados Unidos e a China ou o “Brexit”. “Aquilo que sabemos é que precisamos de um Governo forte que assegure quatro anos de estabilidade para continuar a seguir em frente e continuarmos a governar com peso, conta e medida, mas com a ambição e o irritante optimismo por Portugal”.

No mar cor-de-rosa em que o PS tem navegado neste início de campanha, sobretudo com Mário Centeno e o discurso a reboque da revisão em alta dos números da economia portuguesa, há algumas ondas de choque e Costa repete uma ideia a cada comício: “Não estamos acomodados ao que já conseguimos alcançar. Não estamos aqui para festejar ou celebrar o que já alcançámos”.

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