“Processo de destituição pode prejudicar quer Trump, quer os democratas”

O que pode acontecer na política americana a partir do momento em que se abre a possibilidade de um processo de destituição contra Donald Trump? O professor de política Matthew Green responde ao PÚBLICO.

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Nancy Pelosi, líder democrata da Câmara dos Representantes LUSA/JIM LO SCALZO

Um processo de destituição em plena campanha eleitoral será o tema dominante, e uma grande distracção quer para o Presidente, quer para os democratas, diz Matthew Green, professor do Departamento de Política da Universidade Católica da America, em Washington, numa conversa telefónica com o PÚBLICO. Green, que lecciona, entre outras, a disciplina “Política na Era de Trump”, acha que as hipóteses de Trump ser destituído na sequência deste processo “são mais altas do que na semana passada, mas são ainda muito baixas”.

Este potencial processo de destituição pode entrar na campanha eleitoral para a presidência em 2020 – de que modo poderá afectá-la?

Se este processo se arrastar até ao próximo ano, isso poderá ser muito importante para a eleição, porque seria a maior história sobre Trump: o Congresso estar a tentar destituí-lo. Ambos os lados irão tentar usá-lo para obter uma vantagem para si na batalha da opinião pública.

Trump pode usar a acção como “prova” da fractura entre Democratas e Republicanos?

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Matthew Green

Essa seria a acção óbvia para Trump, usá-la como prova de sectarismo da parte dos democratas. Os democratas podem usá-la para sublinhar as alegações de acções criminosas, fazendo com que o assunto sejam essas acções e não o impeachment.

Por outro lado, sabe-se que um processo de destituição é uma enorme distracção para um Presidente. Por exemplo: Trump quer dedicar um dia de campanha ao tema da liberdade religiosa. Mas decide passar o dia a twittar sobre o impeachment – sai do tema e não está a focar-se numa questão em que poderia ter vantagens na sua campanha. O processo pode ser prejudicial tanto para o Presidente como para os seus opositores democratas.

A simplicidade desta acusação aumenta o poder de prejudicar Trump – ao contrário, por exemplo, do relatório Muller, muito mais complexo?

Esta é uma acusação mais directa, que pode ser transformada num soundbyte, por isso sim, tem muito mais potencial de o prejudicar.

Vê alguma hipótese de Trump ser mesmo afastado na sequência deste processo ou acabar, como Richard Nixon, por se demitir?

Penso que as hipóteses de o Presidente ser destituído são muito baixas. São mais altas do que na semana passada, mas ainda assim são muito baixas.

Trump não é o tipo de pessoa que eu esperaria que se demitisse, ele prefere conflito, funciona bem em conflito. Ficaria muito surpreendido se ele decidisse demitir-se. Mas é preciso ter em conta que Nixon não se demitiu porque o Congresso estava a tentar afastá-lo, demitiu-se porque os republicanos lhe disseram que ele não tinha hipóteses. Talvez isso volte a acontecer, talvez os republicanos digam isso a Trump. Pode ser que ele não os ouça, mas se houver pessoas no seu círculo próximo, em quem ele confie, que lhe digam que é melhor sair do que ficar na História como um Presidente destituído, talvez siga o mesmo caminho que Nixon.

O que podemos esperar que Trump faça se o processo avançar?

Já se está a ver o que está a fazer: twittar muito, atacar os seus opositores, aproveitar para usar o impeachment para angariar dinheiro para a campanha, como já fez hoje. E twittar, twittar...

Além disto, que factor pode ser importante?

Penso que o outro factor importante da equação é o que vão fazer os democratas que estão na corrida para 2020. Nas últimas eleições [intercalares de 2018], uma série de candidatos democratas tiveram bons resultados com um foco em propostas e não em Trump. Por isso, podem sentir que vão ter votos por falarem de questões e políticas. A questão será se também eles conseguirão manter o seu foco em propostas políticas se as notícias nacionais forem todas sobre o processo do impeachment.

A opinião pública tem sido desfavorável a um processo de destituição de Trump. Isto irá mudar?

Sim, pode mudar. Não sei quanto, porque os eleitores estão muito polarizados – os republicanos gostam de Trump, os democratas não. Mas se houver mais provas de acção criminosa e a Casa Branca não for capaz de se defender bem, não ficaria surpreendido se o apoio ao impeachment aumentasse.

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