Os equívocos da esquerda

Contrariamente ao que Manuel Alegre refere esta segunda-feira numa resposta a Catarina Martins, nem todos os partidos preservaram a sua identidade e autonomia nesta “geringonça”.

Se o PSD estivesse mais atento ou melhor de saúde e a disputar a vitória no dia 6, certamente que soltaria algumas farpas ao mais relevante nesta pequena disputa pública entre o Bloco e o PS. Sobretudo quando é metido ao barulho sem seriedade aparente. Os níveis que atingem algumas das inverdades expressas e muita da hipocrisia que se escondem por trás delas, resultaria em gargalhadas irónicas e na reposição de alguma da realidade quanto ao que tem sido dito e escrito no espaço público.

António Costa não é o primeiro líder do PS a procurar descredibilizar o Bloco de Esquerda. Fê-lo recentemente e de forma recorrente por razões eleitoralistas, mas também porque provavelmente sempre pensou grande parte do que agora afirma. Simplesmente não o fez antes por questões de governação e que resultaram na criação da geringonça. Isso é óbvio. Para lá destas pequenas quezílias, acredito que de Francisco Assis à maioria dos militantes socialistas, todos reconhecem outro elemento consensual: o PS é um partido bastante mais próximo do centro e centro-direita, do que da extrema-esquerda. Nem podia ser de outra maneira e o acordo também veio a provar isso.

A “geringonça” tinha duas maneiras de se desenvolver em Portugal: ou o Bloco de Esquerda se sentia de tal maneira atraído pelo seu lugar no poder e metia grande parte do seu programa na gaveta, ou António Costa cedia ao programa eleitoral do BE e do PCP, colocando em cheque o país económica e politicamente durante a próxima década. Diria que o maior mérito da “geringonça” foi cerca de 95% das políticas nos últimos quatro anos terem recaído na primeira e 5% na segunda hipótese. Para isso, ajudou muito o Bloco de Esquerda gostar tanto do seu lugar no poder que se vendeu mais rápido do que um t3 no Chiado com 180m2.

Desapareceu o partido anti-União Europeia, Nato, e todo um ideal refletido no seu programa económico. Como recompensa e nos tais 5%, a prioridade na reposição dos salários aos funcionários públicos em vez de se desafogar as empresas. Contrariamente ao que Manuel Alegre refere hoje numa resposta a Catarina Martins, nem todos os partidos preservaram a sua identidade e autonomia nesta “geringonça”. Nem o PS de hoje e de há mais de uma década, se situa onde ele julga que se situa. Mas voltando a Catarina Martins que, aproveitando-se da atual distração desse espetro político, afirmou que o programa da direita já não serve o país, pretendendo iludir-se a si e a quem a ouve: parece que o tal malfadado programa da direita foi o que mais vingou no país economicamente e junto da União Europeia nos últimos quatro anos.

Até pode ser que seja realmente o Bloco de Esquerda a tirar a maioria absoluta ao PS. Consigo compreender que deitem fora alguns anos de determinado posicionamento contra as contas certas, determinada austeridade, entre outros, e agora até se afirmem como sociais-democratas. Os equívocos para o seu eleitorado é lá com eles.

Mas a realidade para Portugal já é outra e diz respeito a muitos mais. E ao contrário do programa que já não serve, os equívocos da esquerda sempre fizeram mal ao país.

O autor escreve segundo novo acordo ortográfico 

     

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