Corbyn aponta baterias para eleições que não se sabe quando serão

No seu discurso no congresso do Partido Trabalhista, o líder da formação de centro-esquerda garantiu que o partido está pronto para ir a eleições e fez uma série de promessas eleitorais.

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Jeremy Corbyn prometeu nacionalizar os comboios e os correios e acabar com as propinas no ensino superior Reuters/PETER NICHOLLS

Num registo de pré-campanha eleitoral e com poucas referências a um segundo referendo, Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, apontou baterias às próximas eleições com uma série de promessas eleitorais para beneficiar a “maioria dos britânicos e não os poucos privilegiados”. Mas foi omisso em como as pretende convocar e as sondagens não o favorecem. 

“Esta crise apenas pode ser resolvida com eleições legislativas. Essas eleições precisam de acontecer assim que a ameaça de um cenário sem acordo deste Governo for afastada”, disse Corbyn no discurso que foi na prática de encerramento do congresso do partido de centro-esquerda em Brighton, no Sul de Inglaterra. O líder estará esta quarta-feira em Londres para participar na sessão de reabertura da Câmara dos Comuns, quando decorrerá o último dia da reunião da formação de centro-esquerda.

Corbyn referiu poucas vezes a hipótese de um segundo referendo e, quando o fez, manteve a postura de neutralidade que o tem caracterizado nos últimos três anos e que saiu reforçada com a aprovação de uma moção por si defendida no congresso. Reafirmou que o objectivo é disputar eleições legislativas, vencê-las, negociar por três meses um acordo com a União Europeia e só depois, passados seis meses, apresentá-lo em referendo ao povo britânico, lado a lado com a possibilidade de se permanecer no projecto europeu. E o líder trabalhista prometeu cumprir com o resultado do segundo referendo independentemente de qual seja. 

Os conservadores lideram nas sondagens e numa chegam a ter um avanço de 15% de votos face aos trabalhistas. Numa sondagem de 20 de Setembro da Opinium, os tories têm 37%, enquanto o Labour se fica pelos 22%. É seguido pelos liberais-democratas (17%), verdes (4%) e nacionalistas escoceses (4%). No entanto, numa outra sondagem, desta vez da YouGov, a distância entre os dois principais partidos é bastante mais curta: os conservadores conquistam 30% dos votos e os trabalhistas 23%, não se registando grandes diferenças nos outros partidos, com a excepção dos Lib Dems (dos 17 para os 22%).

O líder trabalhista não revelou a sua estratégia para forçar eleições, sabendo-se, no entanto, que tem resistido a avançar com uma moção de censura ao Governo conservador de Boris Johnson por recear não conseguir formar um executivo estável – resta-lhe, porventura, esperar pelo desgaste de Johnson. Ao não o conseguir, ficaria na mesma situação em que a anterior primeira-ministra Theresa May se viu e que as derrotas sucedidas a desgastaram e a fizeram cair: um Parlamento fragmentado onde as linhas divisórias se esbatem e as pontes de diálogo escasseiam.

No entanto, Corbyn não perdeu a oportunidade de garantir que a máquina trabalhista está bem oleada para ir às urnas e prometeu uma política de Governo contra os “poucos privilegiados ao pôr a riqueza e o poder nas mãos da maioria”, a par da sua garantia de travar uma saída sem acordo. Quer subir os impostos para os 5% mais ricos e as multinacionais, investir 250 milhões de libras em infra-estruturas e na rede energética, nacionalizar os comboios e os correios, dar até 10% de acções de empresas públicas aos trabalhadores, acabar com as propinas no ensino superior, criar creches gratuitas e defender o serviço nacional de saúde.

“Juntos, podemos começar a defender os ganhos conquistados pelas gerações anteriores. É tempo de começarmos a construir um país para a próxima geração, onde os jovens não temam o seu futuro, mas que o olhem com confiança e esperança”, disse o líder trabalhista. E garantiu: “A maré está a mudar. Os anos de retirada e derrota estão a chegar ao fim. Juntos, vamos combater os privilegiados e pôr o povo no poder”.

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