Clima económico melhorou, mas Alemanha ainda sem razões para optimismo

Índice Ifo de confiança empresarial na Alemanha registou primeira subida desde Março, mas a expectativa é de que a tendência negativa na economia esteja apenas a “fazer uma pausa para respirar”.

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Sector automóvel na Alemanha tem sofrido com desenvolvimentos no comércio internacional Reuters/Ralph Orlowski

Um dos principais indicadores de confiança empresarial na Alemanha registou, durante este mês, uma ligeira recuperação, interrompendo a tendência de descida que se vinha intensificando nos últimos meses. Ainda assim, os sinais de evolução para o futuro continuam a ser negativos.

O índice de clima económico calculado pelo instituto Ifo registou em Setembro uma subida de 94,3 para 94,6 pontos. É a primeira subida desde o passado mês de Março, constituindo-se como um raro sinal positivo para uma economia alemã que tem vindo a sofrer com os riscos de uma escalada da guerra comercial e de um Brexit sem acordo.

Ainda assim, os dados não são o suficiente para poder declarar o regresso do optimismo à maior economia da zona euro. Na nota em que foram apresentados os resultados, o presidente do Ifo escreveu que o que os dados mostram é apenas que o momento negativo da economia está apenas a “fazer uma pausa para respirar”, antecipando o regresso da tendência negativa nos próximos meses.

Clemens Fuest destaca o facto de a melhoria do indicador de clima se dever inteiramente a uma avaliação mais positiva dos inquiridos relativamente à situação presente da economia, ao mesmo tempo que as expectativas relativamente ao futuro se continuaram a deteriorar. No que diz respeito à situação presente, o índice subiu de 97,4 para 98,5 pontos. Já o índice das expectativas caiu de 91,3 para 90,8 pontos, a sexta descida consecutiva.

O Ifo assinala ainda que “na indústria, o clima económico tem uma única direcção: a descida”, registando-se uma tendência mais positiva nos serviços e na construção.

A economia alemã registou no segundo trimestre deste ano uma contracção de 0,1% e a expectativa generalizada é a de que no terceiro trimestre se possa repetir uma variação negativa do PIB, o que colocaria a Alemanha em situação de recessão técnica.

A economia alemã, que ao longo das últimas décadas fez da sua indústria e das suas exportações os motores do crescimento, está a ser particularmente afectada pelo regresso das políticas proteccionistas a nível mundial. Nos últimos meses, a escalada do conflito comercial entre os EUA e a China, a possibilidade de Washington decidir também penalizar as importações de automóveis e o risco de uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia conduziram a travagem do investimento das empresas alemãs.

Devido à sua dimensão, a economia alemã tem contribuído decisivamente para o abrandamento que se regista no total da zona euro e que forçou o Banco Central Europeu a avançar este mês com novas medidas de estímulo à economia. Na ocasião, o presidente do banco central, Mario Draghi apelou ainda aos Estados membros com “margem disponível” para aplicarem uma política orçamental mais expansionista, um recado que se dirige principalmente ao governo alemão.

Do lado da Alemanha, que tem mantido nos últimos anos uma regra de défice zero, com redução sucessiva do peso da dívida pública na economia, tem-se assistido recentemente, à medida que a economia dá sinais mais negativos, a uma discreta abertura para o reforço do investimento e da despesa do Estado. No início do mês, o ministro alemão da Economia garantiu, num discurso no parlamento, que o país tinha condições, caso fosse necessário, para injectar “muitos milhares de milhões de euros” na economia.

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