Bernardo Lobo dedica um disco a Marcos Valle, “um compositor sem fronteiras”

Filho de Edu Lobo grava um disco só com canções de Marcos Valle, algumas de parceria com ele: Uma Viola Mais Que Enluarada.

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Bernardo Lobo GABRIELA PEREZ

Em 2018 disse-se que Bernardo Lobo tinha seis discos gravados, cinco já lançados e um à espera de edição. Pois a espera acabou: foi editado Uma Viola Mais Que Enluarada, disco preenchido só com canções de Marcos Valle, um dos mais internacionais autores brasileiros, ligado à segunda geração da bossa nova. As gravações começaram em 2015, ainda no Brasil, mas Bernardo Lobo mudou-se para Lisboa e foi já em Portugal que lançou o seu novo disco C’alma, em 2018. O outro ficou à espera e só agora está disponível nas plataformas digitais, depois de remisturado.

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Capa do disco de Bernardo Lobo com canções de Marcos Valle

Músico numa família de músicos, neto do compositor Fernando Lobo (1915-1996) e filho do cantor e compositor Edu Lobo e da cantora Wanda de Sá, Bernardo nasceu no Rio de Janeiro, em 9 de Setembro de 1972. A ideia deste disco nasceu de um desafio, com ele conta ao PÚBLICO. “No início deste projecto, eu nem conhecia o Marcos Valle. Era uma ideia: ‘Vamos gravar Marcos Valle? Vamos.’ Pegámos nos clássicos, nos lados B, escolhemos repertório, mas a história é que no meio do processo eu virei parceiro dele, e em Lisboa! Ele me procurou, quando esteve aqui há uns dois anos e meio, para tocar no Parque Eduardo VII [a terceira edição do Lisb-ON #Jardim Sonoro, em Setembro de 2016], mostrei-lhe uma música que já tinha feito, para a minha filha Maria, Menina das nuvens, e ele aceitou fazer a segunda parte.” A música, que só foi terminada e gravada depois de Maria nascer, acabando por ser uma das faixas do disco C’alma (2018), foi regravada para Uma Viola Mais Que Enluarada, e com a participação do próprio Marcos Valle. “A cantar e a tocar piano”.

Dois filhos e “um novo tempo” 

Mas o disco integraria ainda outra canção dedicada ao filho mais novo de Bernardo, ainda um bebé, o Menino guerreiro [não confundir com Guerreiro menino, composição de Luiz Gonzaga Jr. que Santana Lopes adoptou numa campanha eleitoral]. “A gente gravou essa música já aqui em Portugal, este ano, em Janeiro”, conta Bernardo. A canção foi inspirada numa história real: Antônio, o filho mais novo de Bernardo, nasceu prematuro, com 29 semanas. “Nasceu em Novembro e devia nascer em Janeiro. Ficou 40 dias na incubadora e mais uns 15 dias no hospital. Depois, quando veio para casa, pegou uma tosse convulsa, voltou para o hospital e foi um drama. Mas venceu todas as batalhas e não tem nenhuma sequela, está perfeito, está óptimo. É um guerreiro, mesmo” Ao saber desta história, Marcos Valle emocionou-se, foi para o piano e fez a primeira parte da canção. Bernardo fez o resto.

No resultado final do disco também pesou a distância dos primeiros momentos de gravação. “Eu fiz isso em 2015, e a cabeça vai mudando. Se fosse hoje, talvez tivesse alterado algumas coisas. Mas eu adoro o disco e Marcos também adorou.” Remisturado e editado em 2019, o disco ganhou, além de Menino guerreiro e Menina das nuvens, uma música gravada agora: “Aquele tema de final de ano da TV Globo, Um novo tempo, que a maior parte das pessoas não sabe que é do Marcos Valle e do irmão, o Paulo Sérgio Valle, com o Nelson Motta. A gente tinha feito um arranjo, mas depois gravámos só voz e violão, uma versão bossa nova, e ficou assim no disco.”

A admiração de Bernardo por Marcos cimentou-se com este trabalho que acabou por ampliar uma parceria: “Admiro muito o Marcos, é um compositor sem fronteiras que vai da bossa nova, do Samba de Verão, um dos clássicos mais gravados da história, até uma música mais pop, para as pessoas dançarem. E faz isso com uma assinatura.”

O disco já foi apresentado ao vivo em São Paulo, na Casa Natura (“um centro lindo, uma casa espectacular”), e no Rio de Janeiro, no Clube Manouche, aqui, diz Bernardo, “com a participação do Marcos e de uma banda incrível”. Prevê-se ainda uma digressão pela Europa e em Portugal está previsto um concerto no B.Leza, em Lisboa, no dia 30 de Outubro.

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