SNS E.P.E.? Não, obrigado!

Referir o modelo de Thatcher, empregue para destruir o NHS britânico e criar as PPP, como tendo resultados positivos e ser fonte de inspiração, não deixa qualquer dúvida sobre os verdadeiros objectivos que pretendem atingir.

Há uns meses atrás, surgiram uns artigos de opinião com umas fantasias neoliberais anti-SNS copiadas do desastroso modelo thatcheriano que iniciou o desmantelamento do NHS britânico.

Segundo essas opiniões, o nosso SNS deveria ser retirado do âmbito do Ministério da Saúde e passar a ser gerido por uma entidade do tipo instituto ou empresas pública, para promover, dizem eles, a liderança técnica.

Noutro artigo, foi efectuada uma abordagem semelhante defendendo a criação de uma holding com um CEO próprio e com um mandato mais longo do que as legislaturas.

Trata-se de uma nova cantilena neoliberal contra o nosso SNS, por mais que digam que o apoiam.

E quando digo isto, vou fundamentar esta minha análise. Desde logo, porque são os próprios autores dos artigos a confessarem-se!

Num caso, é afirmado que esse modelo que propõem “contribuiria para separar e clarificar as funções de prestador e pagador”, bem como ter sido um percurso “percorrido no Reino Unido com resultados muito positivos”. Noutro caso, é afirmado que “poderíamos inspirar-nos no Reino Unido, que inventou a figura do CEO do NHS há já vários anos”.

Importa clarificar de imediato que em todos os países em que foram adoptadas medidas de destruição dos seus serviços públicos de saúde, com a sua privatização, uma das medidas nucleares que foi sempre implementada foi precisamente a separação das funções prestadoras e pagadoras: os dinheiros públicos são entregues a entidades privadas, na maior parte multinacionais, para elas prestarem os cuidados de saúde com vultuosos dividendos para os seus accionistas.

Simultaneamente, referir o modelo de Thatcher, empregue para destruir o NHS britânico e criar as PPP, como tendo resultados positivos e ser fonte de inspiração, não deixa qualquer dúvida sobre os verdadeiros objectivos que pretendem atingir.

Na Inglaterra foi criado esse instituto com a designação NHS England. E qual tem sido o papel dessa entidade a nível da saúde?

O NHS England tem sido um instrumento de facilitação das medidas privatizadoras dos serviços públicos de saúde ingleses e de entrega de importantes e lucrativos segmentos da prestação dos cuidados de saúde, nomeadamente a multinacionais americanas como a UnitedHealth e Kaiser Permanente e até a multinacional sul-africana Netcare.

Para termos uma noção mais apurada das ligações de quem dirige essa chamada gestão de liderança técnica, basta enunciar três exemplos:

  • O CEO do NHS England, Simon Stevens, foi durante mais de uma década dirigente da maior multinacional americana e HMO UnitedHealth Group, de que foi seu vice-presidente executivo;
  • Lord David Prior, chair do NHS England, desempenhou vários cargos dirigentes na Lehman Brothers, o gigante banco de investimentos sedeado em Nova Iorque que constituiu a maior falência da história americana;
  • David Roberts, vice-chair, que desempenhou cargos de relevo no Lloyds Banking Group e no Barclays.

Estamos mesmo a ver que estas entidades multinacionais sempre se preocuparam com o direito à saúde dos cidadãos comuns, não é?

O facto de defenderem que o SNS seja retirado do âmbito do Ministério da Saúde e com mandatos desencontrados nas legislaturas visa impedir o escrutínio democrático e eleitoral dos cidadãos sobre as políticas de saúde desenvolvidas e esconder-lhes as negociatas com o nosso dinheiro de contribuintes.

Não, obrigado!

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