Da oficina de Hugo saem dezenas de violas tradicionais dos Açores

Hugo Raposo tem 29 anos e há 15 que constrói violas da terra na sua oficina em Ponta Delgada, São Miguel. O trabalho meticuloso do jovem luthier já atrai turistas.

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Hugo dedica-se “a tempo inteiro” na sua nova oficina, em Ponta Delgada, à construção de violas da terra, instrumento de cordas típico açoriano, e tem encomendas de vários pontos do país e até do estrangeiro. “Trabalho não falta. Há sempre reparações para fazer de instrumentos, alguns dos quais muito antigos. E há muitos turistas interessados em adquirir uma viola ou guitarra”, disse à agência Lusa Hugo Raposo, de 29 anos, enquanto mostra uma guitarra quase pronta para seguir para os Estados Unidos da América.

Até final do ano passado, o jovem luthier tinha oficina na casa do Pico da Pedra, em São Miguel, mas a abertura do espaço em Ponta Delgada, desde Janeiro, teve como intuito dar “maior visibilidade” ao trabalho, uma “ideia da mãe”. Na loja, dedica-se à construção de raiz de violas da terra (instrumento certificada com a marca Artesanato dos Açores), guitarras portuguesas, guitarras de Coimbra, viola clássica e viola para fado, mas também bandolins e cavaquinhos.

“As encomendas são para os Açores, mas também tenho pedidos do continente e de emigrantes dos EUA e Canadá que requisitam muito as guitarras portuguesas”, explica Hugo Raposo, filho de um fadista/barbeiro e cujo avô também já tocava viola de fado. Da Europa chegam também encomendas. Um casal de turistas, por exemplo, adquiriu uma guitarra portuguesa que estava exposta no salão/barbearia dos pais, paredes meias com a loja.

O preço mínimo de uma viola da terra é de 750 euros, enquanto a guitarra portuguesa ronda os 1500 a 1750 euros. “Geralmente, as pessoas procuram uma guitarra boa, construída de raiz”, sublinha, admitindo que a guitarra portuguesa é mais conhecida e daí que a procura seja maior.

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Hugo Raposo tem 29 anos DR

Por ano, constrói “mais de dez violas”, num processo meticuloso. “A construção demora entre 100 a 150 horas”, repartidas “entre um mês e meio a dois meses, mas tudo depende dos materiais”. E prossegue: “A viola é construída por fases. Há o corte da madeira, depois unir os tampos. O tempo de secagem das colas, a secagem do verniz”.

De segunda a sábado na oficina, outrora a barbearia do avô, Hugo Raposo dedica-se “em exclusivo” à reparação e construção de instrumentos de corda de raiz, o que já faz “há 15 anos”. “Tenho um violino de 1800 quase reparado. Ele veio todo desmontado”, conta.

Hugo Raposo salienta a importância de incutir “mais” a aprendizagem nas escolas de um instrumento ligado à cultura açoriana, salientando o trabalho que Rafael Carvalho, músico e professor, tem feito para divulgar a viola da terra, que possui cinco parcelas de 12 cordas. O instrumento é também conhecido como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas. No passado, o instrumento fazia parte do dote do noivo e o seu lugar na casa durante o dia era em cima de uma colcha axadrezada, como adorno do quarto do casal, assumindo, desde o povoamento do arquipélago, um lugar de destaque nos festejos, bailes, cantorias e serões.

Com formação na área de marcenaria/carpintaria, Hugo Raposo tem entre mãos “a desafiante” tarefa de reparar “um bandolim com cerca de 100 anos”, um instrumento propriedade de uma família. “Somos de famílias de tocadores e de pessoas com habilidade manual para a madeira”, diz com orgulho.

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