Fotografia
Os circos riem por último num Médio Oriente em chamas
Em territórios marcados por ditadura política e religiosa ou conflito armado, poder-se-ia pensar que o espaço para a alegria e a evasão seria limitado. Mas entre a pobreza extrema que se vive na Palestina e a pressão israelita, existe uma escola de circo cujas performances reflectem o absurdo da vida na linha da frente de guerra. Também no Irão, onde o ayatollah Khamenei governa com mão de ferro, existe espaço para o riso. Até no devastado Afeganistão a alegria tende a espreitar por entre os destroços da guerra que consome o país. A alemã Johanna-Maria Fritz acredita que existe uma ligação directa entre a resistência da arte circense e o desejo de liberdade.
O projecto Like a Bird, actualmente em exposição na Nova Galeria do Largo do Paço, em Braga, ao abrigo da 29.ª edição do Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem, traça o retrato dos artistas de circo dessas paragens, mas também dos seus espectadores. Johanna procura, desde 2015, respostas a questões que considera essenciais: "Como é que os artistas de circo criam este tipo de espaço de liberdade e que sonhos e esperanças os ligam à sua arte? Que tipo de efeito externo é criado pelo circo nestes países?"
O circo, enquanto espaço livre de religião, nacionalidade ou raça, "é um refúgio em tempos de incerteza", refere Johanna na sinopse do projecto. As fotografias da alemã mostram espaços rurais ou desérticos onde se destacam as cores dos figurinos, assim como espaços urbanos em contraste com o aparato militar. Ao desenvolver a série de fotografias, a alemã sentiu uma curiosidade particular no que toca ao papel da mulher no quotidiano circense. "Felizmente, porque sou mulher, tive oportunidade de aceder a esse universo feminino dentro das sociedades conservadoras que visitei", explica, referindo-se, em particular, às realidades iraniana e afegã. Nesta última, percebeu que as jovens mulheres encontram no circo um espaço de liberdade que não está disponível noutro contexto.
A fotógrafa de Berlim teve contacto com o circo pela primeira vez através da companhia Zirkus Rolandos, na Alemanha de Leste, aos 17 anos e, desde então, a busca por novos circos, provenientes de diferentes contextos culturais, não mais cessou. "Tropecei no primeiro e único circo islandês, Sirkus Islands; visitei-o e fotografei a sua equipa desde a sua fundação", explica. Sempre munida de uma Hasselblad, continua a percorrer o Médio Oriente, mas promete estender o projecto até à Nigeria, Senegal, Indonésia, Índia e China.
Durante as próximas semanas, o P3 apresenta alguns dos projectos que fazem parte da 29.ª edição do Festival Internacional de Fotografia Encontros da Imagem, que decorre entre 13 de Setembro e 27 de Outubro em Braga, Barcelos, Porto e Guimarães.