Uma Semana Europeia com os olhos do futuro

Em 2030, o mundo deverá ter 43 megacidades (mais de 10 milhões de pessoas cada), e nove em cada dez nascerão nos países em desenvolvimento.

Celebramos por estes dias a 18.ª edição da Semana Europeia da Mobilidade e a 20.ª do Dia Europeu sem Carros. Milhares de cidades e organizações procuram sensibilizar a sociedade para a necessidade de adotar modos de mobilidade mais limpos e transportes urbanos sustentáveis. Na passada sexta-feira, mais de 2670 cidades e vilas tinham confirmado a sua participação nesta campanha que procura, desde o início, melhorar a saúde pública e a qualidade de vida de quem nelas habita.

Ao procurarem envolver os seus cidadãos na mudança de comportamentos, através da utilização de meios de transporte menos poluentes ou mesmo de mobilidade ativa – o tema deste ano é, aliás, Caminhar e Pedalar em Segurança -, e as cidades estão a fazer muito mais do que cumprir um calendário mediático. Procuram caminhos para o futuro, que determinarão não só o futuro delas próprias, mas de todo o planeta.

Na passada semana, o relatório elaborado pelo grupo de cientistas independentes sobre o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a pedido do estados-membros das Nações Unidas, lembrou que o “Futuro é Agora” e que, dos 17 Objetivos, um conjunto deles tem poder transformador e influenciador sobre todos os outros, como é trabalhar para cidades e comunidades sustentáveis, conhecido por Objetivo 11.

Em 2030, o mundo deverá ter 43 megacidades (mais de 10 milhões de pessoas cada), e nove em cada dez nascerão nos países em desenvolvimento, sem contar com muitas cidades secundárias que terão com menos recursos, menos poder económico e serão menos dotadas de infraestruturas.

Olhando para as tendências de desenvolvimento urbano e das suas periferias, os cientistas enunciam várias mensagens-chave sobre o ODS11 que nos devem levar a olhar para iniciativas como a Semana Europeia da Mobilidade com os olhos do futuro.

Começam por afirmar que as “cidades sustentáveis são centrais para se alcançar todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Se hoje mais de metade da população mundial vive nas cidades, em 2050 serão cerca de 70%. E nelas residirá 80% da atividade económica mundial. Três mil milhões de pessoas viverão então em favelas.

Do mesmo modo, este relatório reforça o “planeamento inteligente das cidades": o desenho de roteiros de longo prazo que visem um desenvolvimento urbano sustentável integral e inclusivo. Trata-se de planos e políticas com base num profundo diálogo político interdisciplinar entre todos os atores sociais, políticos e económicos, públicos e privados, com objetivos e metas de longo prazo compartilhados, que integre a inovação, tecnologias e dados adequados para monitorizar e prever a estabilidade de longo prazo e reduzir a volatilidade na sua implementação, são elementos-chave para atrair investimentos produtivos a longo prazo.

Trata-se também de roteiros, planos e políticas de longo prazo que exigem a colaboração e a implementação conjunta de projetos entre governos locais e empresas, sociedade civil, universidades, cidadãos, numa coerência multinível com as instituições nacionais e em conexão com um movimento de governos e cidadãos locais, aldeias, áreas rurais e territórios de todo o mundo.

Quanto à prioridade para os decisores urbanos deve ser o coração da própria Agenda 2030 - não deixar ninguém para trás. O que implica políticas e medidas de erradicação da pobreza, acesso a empregos decentes, serviços públicos de qualidade e transportes sustentáveis.

É também preciso que toda a sociedade – governos, empresas, sociedade civil e os indivíduos – disponha de ferramentas que promovam níveis sustentáveis de produção e consumo que evitem a degradação ambiental, desde a habitação aos transportes. O dinamismo económico tem estado associado à pressão agravada sobre o clima, contribuindo para as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), na sua maioria provenientes do consumo de energia e dos transportes.

Projetos que procuram responder a esta preocupação ocorrem, por exemplo, nas cidades de Matosinhos e Cascais, onde funciona um novo conceito desenvolvido pelo CEiiA: a plataforma AYR que quantifica, valoriza e permite transacionar créditos de emissões de carbono evitadas pelos seus utilizadores nas cidades, ao optarem por modos mais sustentáveis de mobilidade. Esta ferramenta fortalece, ao mesmo tempo, o papel do cidadão na adoção de modos mais sustentáveis de vida.

Sem as cidades e sem os cidadãos não se atingirão as metas do Acordo de Paris, nem se implementarão os ODS até 2030, como foi o compromisso dos líderes mundiais na cimeira da ONU de Nova Iorque de 2015. Hoje, temos um Plano para os ODS a nível local, para mobilizar todos os atores locais, públicos e privados de todo o mundo e uma estratégia bottom-up para ampliar os esforços individuais, conectando-os a uma escala universal, de Cascais, Matosinhos, Lisboa e Porto com Madrid, México, Maputo e a sede das Nações Unidas em Nova Iorque.

Sugerir correcção
Comentar