Madeira: entre PSD e PS, venha o eleitorado e escolha

Partidos têm dramatizado o discurso. PSD alerta para os riscos de uma “coligação negativa” de esquerda. PS apela ao voto, para operar a mudança no arquipélago.

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As sondagens que têm sido divulgadas esta semana na Madeira coincidem na vitória (mais uma) do PSD nas legislativas regionais deste domingo, mas são também coincidentes quanto à improbabilidade de uma maioria absoluta.

Talvez por isso, à medida que o tempo para campanha eleitoral foi encolhendo, a narrativa política foi-se afunilando. Deixou-se de ouvir falar tanto de propostas e ideias, passou-se a falar mais de maiorias. Do que se pode fazer com elas. Do que elas representam à direita e à esquerda. Da necessidade de evitá-las.

O PSD de Miguel Albuquerque tem pedido uma “maioria expressiva” para continuar a governar o arquipélago com “estabilidade”, esforçando-se por diabolizar uma hipotética maioria de esquerda que junte “socialistas, comunistas e extremistas”. “Queremos continuar a crescer, não queremos cá as convulsões sociais do continente”, argumenta o líder social-democrata, que tem percorrido, em comícios, um a um, todos os 11 concelhos da região autónoma.

Também o PS, unido à volta de Paulo Cafôfo, tem vindo a polarizar o discurso. Há o “eles”, personificado nos 43 anos de governação do PSD, e há o “nós” que os socialistas querem liderar. O sound bite de Cafôfo tem sido a “mudança”. O mesmo com que o candidato independente roubou o município do Funchal ao PSD, em 2013. O mesmo, com que o PS, em coligação com o PAN, PTP e MPT, perdeu com estrondo para Albuquerque, nas regionais de 2015.

As sondagens não têm sido famosas para o PS. A primeira que foi divulgada, encomendada pela RTP à Universidade Católica, coloca o PSD a um deputado da maioria. No dia seguinte, um estudo de opinião da Intercampus para o JM-Madeira, retirava dessa projecção dois deputados aos sociais-democratas. A última, esta quinta-feira, conduzida pela Eurosondagem para o DN-Madeira, foi um pouco mais animadora para os socialistas. Foi a única no qual uma coligação PSD e CDS não consegue formar maioria no parlamento regional. “Poucochinho” para o PS, que começou a preparar estas regionais logo após as autárquicas de 2017.

Foi nessa altura que Emanuel Câmara, um histórico dirigente do PS local que preside desde 2013 à Câmara de Porto Moniz, um pequeno município no Norte da Ilha, decidiu desafiar a liderança do partido, na altura encabeçada por Carlos Pereira, acenando com um trunfo chamado Paulo Cafôfo: o autarca independente, que foi o rosto da derrota de Jardim nas autárquicas de 2013. Se ganhasse o partido, garantiu aos militantes, seria o então autarca do Funchal o candidato do PS à presidência do governo madeirense. Câmara ganhou e aqui estamos.

Mas o entusiasmo inicial da campanha dos socialistas, que chegaram a liderar estudos de opinião, tropeçou nas eleições europeias, em que o PSD teve mais 12 pontos percentuais, uma vantagem superior a 11 mil votos, do que os socialistas, ainda divididos pelo combate interno entre Emanuel Câmara/Paulo Cafôfo e Carlos Pereira.

Foi preciso repensar estratégias. Cafôfo antecipou a saída da presidência do Funchal para se dedicar em exclusivo à campanha e Câmara procurou reunir as hostes, recuperando Carlos Pereira para encabeçar a lista do PS-Madeira para as legislativas de Outubro.

Do outro lado da barricada – por é de barricadas que se trata – o PSD fez o mesmo, mas logo nas autárquicas. O partido também estava dividido há muito. Albuquerque enfrentou Alberto João Jardim nas eleições internas de 2012 e a rivalidade agudizou-se dois anos depois, quando a luta pela sucessão do histórico dirigente do PSD-Madeira levou Albuquerque a bater numa segunda volta Manuel António Correia, o delfim de Jardim.

Com o PSD partido ao meio, o PS cresceu. Primeiro Carlos Pereira, e depois com Câmara/Cafôfo. Era preciso reagir. Na ressaca das autárquicas, Albuquerque remodela o governo, chamando Pedro Calado, companheiro nos tempos em que presidiu à Câmara do Funchal, para a vice-presidência, libertando-se para funções mais políticas.

O segundo passo foi fazer regressar Jardim, que andava afastado do seu sucessor (e não raras vezes a criticá-lo). Unidos, os sociais-democratas consolidaram o espaço político à direita e têm recuperado eleitorado. Alberto João Jardim tem procurado ajudar. Subiu ao palco do comício que abriu a campanha e voltou a subir nesta quinta-feira, na festa-comício no Funchal. Esta sexta-feira, no final da tarde, vai estar ao lado de Albuquerque na arruada pelas ruas da capital madeirense, que fecha a campanha.

O antigo governante madeirense continua a gozar de grande popularidade no arquipélago. Tanto que o próprio Cafôfo não se furta aos elogios. “É uma personalidade inigualável”, disse a propósito de Jardim, numa entrevista recente ao Expresso. Que, diga-se, não caiu nada bem, em certos sectores do partido.

E é esse somatório – o PSD arregimentado, as sondagens (as que têm sido divulgadas, e as outras para consumo interno) e o peso que a máquina social-democrata tem na administração pública regional – que tem provocado uma ligeira inflexão no discurso socialista. No início da campanha, e mesmo antes de ela começar, o verbo vencer era presença habitual nos discursos; nos últimos dias tem andado mais escondido nas intervenções políticas.

Fala-se de mudar, sim. De ganhar, também. Mas o objectivo, percebe-se, só será alcançado, com mais partidos.

O PSD, por outro lado, tem agigantado o discurso. A frase “maioria absoluta” tem andado na boca de Albuquerque desde o início, mas nos últimos dias tem sido mais audível.

Esta bipolarização PSD-PS, tem devorado partidos que nos últimos quatro anos tiveram relevância na assembleia madeirense. O CDS, que desde 2011 é líder da oposição, arrisca-se a cair para terceira força política, ou mesmo quarta, se o Bloco surpreender. O JPP, que tinha os mesmos cinco deputados que o PS, também deverá ser fortemente penalizado. Mas, ironicamente, serão esses mesmo partidos, e até alguns menos representativos no arquipélago, como o PAN, a Aliança ou a Iniciativa Liberal, que poderão ter uma palavra a dizer quando as urnas fecharem e for preciso fazer contas para formar uma maioria parlamentar que suporte o próximo governo.

Nesta matemática, o CDS perfila-se como candidato natural, tanto à esquerda como à direita. Rui Barreto, o líder regional dos centristas, tem repetido que “maiorias absolutas, significam um poder absoluto”. Por isso, quer o partido a influenciar o próximo governo. PSD ou PS? Barreto diz o óbvio, que  a maior proximidade ideológica é com o PSD, mas ressalva: não vai deixar que a extrema esquerda faça parte de uma solução de governo.

Há quatro anos, o PSD segurou a maioria absoluta por um deputado. Os sociais-democratas ocuparam 24 dos 47 lugares do parlamento regional, deixando sete para o CDS, seis para a coligação Mudança - PS (cinco), PTP (um), PAN e MPT -, cinco para o JPP, dois para CDU e Bloco e um para o PND, que terminou a legislatura como independente.

No boletim de voto do próximo domingo, vão constar 17 quadrados: PDR, Chega, PNR, BE, PS, PAN, Aliança, MPT, PCTP/MRPP, PSD, Iniciativa Liberal, PTP, PURP, CDS, CDU, JPP e RIR.

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