Problemas de comportamento na infância, insónia na idade adulta

Os resultados do estudo destacam a importância de abordar os problemas de comportamento e os problemas de sono durante a infância.

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nrd/Unsplash

Tratar os problemas de comportamento na infância pode ter o benefício de reduzir o risco de insónia na idade adulta, sugere um estudo recente, no qual 8050 pessoas foram acompanhadas ao longo de mais de quatro décadas, e que avaliou os problemas de comportamento nas idades de 5, 10 e 16 anos e, em seguida, inquiriu sobre os hábitos de sono quando os participantes tinham 42 anos.

Aos 5 anos, 78% das crianças tiveram um comportamento normal, enquanto 13% tiveram problemas comportamentais moderados e 4% tiveram problemas comportamentais graves. As crianças com problemas graves de comportamento tiveram 39% mais probabilidade de ter insónia em adultos do que as crianças que tinham um comportamento normal, avançam os investigadores do JAMA Network Open.

“A ligação entre comportamento infantil e insónia na idade adulta pode ser parcialmente explicada por problemas de sono na infância”, justifica Yohannes Adama Melaku, autora do estudo e investigadora do Instituto de Saúde do Sono de Adelaide, da Universidade de Flinders, na Austrália.

Assim, “o tratamento de problemas comportamentais e de sono durante a infância pode reduzir o risco de insónia na idade adulta”, explica Melaku por e-mail. “Estabelecer comportamentos saudáveis ​do sono em criança é importante para a prevenção da insónia na idade adulta”, reforça.

A equipe de Melaku analisou dados de um estudo contínuo de um grupo de crianças nascidas no Reino Unido em 1970. Durante a infância e a adolescência, os investigadores pediram aos pais que avaliassem com que frequência as crianças tinham vários comportamentos como estar inquieto, destruir ou danificar coisas, brigar ou discutir com outras crianças, não ser apreciado pelos pares, preocupar-se com muitas coisas, ser solitário, estar com medo ou ansioso, faltar à escola, ficar aborrecido em situações novas, ou ser vítima ou agressor em caso de bullying.

Para avaliar os sintomas de insónia na infância, os investigadores perguntaram aos pais com que frequência os filhos não conseguiam adormecer, tinham problemas para adormecer ou ter um sono contínuo. Em adultos, os participantes foram submetidos a perguntas semelhantes. Durante a infância, cerca de 25% das crianças com 5 anos e 16% das mais velhas tinham dificuldades de sono.

Em adultos, os participantes do estudo com problemas de sono moderado a grave durante a infância tiveram 40% mais hipóteses de ter insónia do que aqueles sem problemas de sono na infância. Aqueles sem problemas de sono aos 5 anos, mas que desenvolveram problemas de sono moderado a grave aos 16 anos tinham 34% mais possibilidades de ter insónia em adultos.

Depois de se ajustarem a outros factores que poderiam influenciar o risco, os investigadores calcularam que aproximadamente 16% da associação entre problemas de comportamento na infância e insónia na idade adulta poderia ser explicada por dificuldades para dormir aos 5 anos. Mas a natureza exacta dessa conexão não é clara e requer mais investigação, defendem os autores.

Os resultados do estudo destacam a importância de abordar os problemas de comportamento e os problemas de sono durante a infância, antes que as crianças desenvolvam padrões que possam dificultar o descanso de que precisam mais tarde na vida, refere Nicole Racine, psicóloga da Universidade de Calgary e Alberta, que não esteve envolvida no estudo.

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