Ex-amante de Rosa Grilo nega qualquer envolvimento no crime

Rosa Grilo tentou fazer chegar mensagens ao ex-amante quando já estavam proibidos de contactar um com o outro. “Sei que não é fácil para ti tudo isto, sei que era um dos teus piores receios”, disse-lhe na missiva.

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ANTÓNIO PEDRO SANTOS

“Não tive, nem tenho conhecimento do que aconteceu com o senhor Luís Grilo”, disse no tribunal de Loures António Joaquim, que decidiu prestar declarações no julgamento, reiterando: “Não tenho absolutamente nada a ver com o que aconteceu com o senhor Luís Grilo.”

O ex-amante da arguida, ouvido durante a tarde desta terça-feira, disse que Rosa Grilo nunca lhe disse absolutamente nada sobre o que teria acontecido ao marido, tentando assim afastar-se das acusações que lhe são feitas. Recorde-se que a acusação dá António Joaquim como sendo o autor do disparo que terá matado Luís Grilo.

Além desta declaração de inocência, a defesa de António Joaquim levantou ainda questões sobre as provas periciais. Colocou a causa os testes de balística e o modo como foi recolhido o ADN. Segundo Ricardo Serrano Vieira, advogado do ex-amante de Rosa Grilo, a bala retirada da cabeça de Luís Grilo tinha cinco estrias e os testes efectuados à arma de António Joaquim revelam que deixa seis estrias nas balas. Logo, a arma que foi apreendida que é do oficial de Justiça, não pode ser a arma do crime segundo a sua defesa.

Da parte da manhã, ficou a saber-se que Rosa Grilo tentou fazer chegar mensagens ao amante António Joaquim quando ambos já estavam detidos e proibidos de ter quaisquer contactos. O tribunal mandou apreender duas cartas. Segundo a juíza Ana Clara Batista, que preside ao julgamento que decorre no Tribunal de Loures, uma dessas cartas, escrita em Abril, foi enviada através de outra reclusa.

Essa reclusa enviou uma carta para o namorado que está detido no mesmo estabelecimento prisional em que se encontra António Joaquim e dentro da missiva seguia uma folha escrita por Rosa Grilo.

Este facto foi tornado conhecido, esta terça-feira, na segunda sessão de julgamento de Rosa Grilo e de António Joaquim, ambos acusados no caso da morte do triatleta Luís Grilo, pelos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida.

O procurador quis saber porque é que a arguida escreveu a António Joaquim quando sabia que estava proibida de o fazer. Rosa Grilo ainda negou saber dessa proibição, mas a juíza insistiu que esta sabia, até porque usou um subterfúgio para o fazer. Rosa acabou por dizer que queria tranquilizar António Joaquim.

O magistrado do Ministério Público questionou ainda o que queria dizer quando escreveu: “Sei que não é fácil para ti tudo isto, sei que era um dos teus piores receios (…) tenho feito tudo o que posso por ti. Tenho muitas merdas para o julgamento.”

“A que merdas se refere?”, questionou o procurador. Rosa disse que são os documentos que já apresentou no processo.

A segunda sessão do julgamento ficou também marcada pelo facto de a mulher de Luís Grilo não conseguir explicar os “vários salpicos de sangue” no quarto de visitas, quando alega que o marido foi morto entre a cozinha e a sala.

Rosa Grilo diz que limpou tudo e meteu roupas que tinha junto à máquina de lavar em sacos de plástico preto e os guardou no quarto de hóspedes antes de os colocar no lixo, mas que não sabe explicar os alegados “salpicos”.

Morto por angolanos?

A arguida também acabou por chorar depois de a juíza insistir em saber por que razão não tentou fazer algo enquanto os alegados sequestradores – alega que o marido foi morto por angolanos que procuravam diamantes em sua casa estavam ainda na habitação, tendo inclusive deixado o filho com um deles.

Rosa apenas conseguiu dizer que achava que não lhe iam fazer mal e que se “arrependia de tudo o que fez naquele domingo” em que o marido foi morto e chorou ao afirmar que o seu filho é o que “mais importa neste mundo”.

Outra dúvida que ficou por esclarecer foi porque é que, alegadamente, e segundo o procurador, os sequestradores enrolaram o corpo do triatleta em sacos de plástico e o transportaram pela frente da casa até ao carro. O procurador estranha que arriscassem assim ser vistos por vizinhos. “Porque não meter o carro na garagem e colocar o corpo sem arriscar serem vistos?”

Rosa Grilo apenas disse que talvez fosse porque lá estava a cadela e não soube explicar mais nada. Também não soube explicar por que razão nos plásticos que envolviam o corpo do marido foram apenas encontradas as suas impressões digitais, já que foram alegados “angolanos que o embrulharam e transportaram”. A arguida apenas disse que foi ela quem deu os rolos dos sacos de plástico aos agressores.

Por sua vez, a juíza questionou o facto de esta não ter contado nada a António Joaquim, nos dias seguintes à morte, uma vez que o arguido até dormiu em casa desta. A arguida justificou que tinha mentido desde o início e que naquela altura era difícil voltar atrás. Rosa foi, no dia da morte do marido, participar à GNR o seu desaparecimento, alegando que este foi treinar e não voltou. A tese de que angolanos teriam ido a sua casa procurar diamantes que o marido teria recebido através de encomendas surgiu depois de ter sido detida por suspeitas de envolvimento na sua morte.

Tanto a juíza como o procurador tentaram que Rosa explicasse porque é que os referidos “angolanos” mataram Luís Grilo sem saberem do paradeiro dos tais diamantes e como é que, sabendo que o filho de ambos estava para chegar, nunca usaram isso como meio para pressionar o triatleta a falar.

A audiência continua ainda nesta terça-feira no Tribunal de Loures.

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