Uma “maioria microbiana invisível”

Esta terça-feira assinala-se o Dia do Microrganismo.

A celebração de dias especiais ao longo do ano tem como objectivo, entre outros, relembrar feitos históricos, chamar a atenção para questões de saúde ou consciencializar para problemas ambientais. Poderá, assim parecer estranha a ideia de celebrar os microrganismos quando, mentalmente, as pessoas associam micróbios a doenças. Puro engano. Apenas uma infinitésima parte de todos os microrganismos presentes no planeta são prejudiciais à saúde. Nem nos apercebemos quão dependentes estamos desses pequenos seres invisíveis para o nosso bem-estar. Eles são fundamentais na alimentação, na saúde, na reabilitação ambiental, na produção de energia e numa área prioritária para a Europa, a bioeconomia. Sendo organismos dum mundo invisível o medo instala-se por ausência de conhecimento e identificação. Urge desmistificar este grupo de organismos e mostrar o que são e o que nos ajudam a fazer.

A grande mensagem subjacente a esta celebração é mostrar a importância de conhecer os microrganismos. Só com conhecimento podemos ter discernimento para actuar perante a inevitabilidade de estarmos perante uma “maioria microbiana invisível”. A outra mensagem é que nem tudo o que é invisível é mau. E temos o caso do microbioma humano, que é hoje reconhecido como “o nosso segundo cérebro”.

Mas, numa altura em que tanto se fala em perda de biodiversidade é bom relembrar que os microrganismos são o verdadeiro suporte da vida na Terra. Por outro lado, o microbioma não é exclusivo do Homem. Os microrganismos apoiam e permitem (ou dificultam) a existência de todas as formas de vida visível, plantas ou animais, em todos os habitats, terrestres ou aquáticos. Compreende-se assim a importância de aprofundar o seu desempenho perante as alterações climáticas (incluindo produção e consumo de gases de efeito estufa), e de como serão afectados por mudanças globais decorrentes das actividades humanas. Esta preocupação recente demonstra o papel central e a importância global dos microrganismos nos ecossistemas e nos serviços que prestam. Serve também para alertar que o impacto das alterações climáticas dependerá fortemente das respostas destes seres invisíveis. Ou seja, a gestão dos ecossistemas deve ter, como componente essencial, a biodiversidade dos microrganismos. Porém, poucos esforços têm sido feitos para integrar este conhecimento de ecologia microbiana.

Nos últimos três anos os microbiólogos portugueses têm desenvolvido esforços para chegar a diferentes níveis de responsabilidade: ao científico, com a ligação frutuosa entre diferentes equipas nacionais e internacionais, ao educacional com propostas simples e inovadoras para facilitar a compreensão de temas complexos, e à sociedade em geral com actividades sobre os micróbios no nosso quotidiano. A celebração deste dia, com actividades gratuitas espalhadas por todo o país, e estendidas um pouco por todo o mundo, pretende lançar as bases do conhecimento alargado da sociedade, a curiosidade e motivação dos media e a necessidade de integrar os micróbios nos interesses escolares, não só numa óptica de saúde pública mas principalmente de sustentabilidade do planeta.

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