Nova espécie de salamandra-gigante pode ser o maior anfíbio do mundo

A maior salamandra-gigante-da-china conhecida – encontrada no Sul do território chinês na década de 1920 – pode, afinal, ser de uma espécie diferente.

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A espécie Andrias sligoi, uma das novas espécies de salamandra-gigante Sociedade Zoológica de Londres

Até agora, a salamandra-gigante-da-china, a Andrias davidianus, era conhecida por ser o maior anfíbio do mundo. Contudo, num artigo publicado esta terça-feira na revista Ecology and Evolution, uma equipa de cientistas identificou duas novas espécies de salamandras-gigantes-da-china e sugere que uma delas pode ser o maior anfíbio do mundo, destronando a Andrias davidianus.

Em 2018, um estudo publicado na revista Current Biology mostrou que poderiam existir entre cinco e oito espécies de salamandras-gigantes-da-china. Porém, este trabalho não conseguiu situar geograficamente as linhagens genéticas descobertas, pois muitas das salamandras estudadas poderiam ter fugido de quintas de salamandras, onde eram criadas para serem vendidas. A reprodução entre espécies diferentes e a libertação inadvertida destes anfíbios – pois não há o cuidado de os colocar nos habitats mais adequados – põem em risco a diversidade das salamandras, devido aos perigos de alastramento de doenças e de homogeneização genética.

Agora, a equipa composta por investigadores da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês) e do Museu de História Natural de Londres analisou 17 exemplares de salamandra-gigante-da-china (da espécie Andrias davidianus) de vários museus, que foram obtidos antes de se iniciar a captura, transporte e libertação de salamandras-gigantes-da-china no território chinês na segunda metade do século XX. Foram analisadas também amostras de tecidos de salamandras selvagens desta espécie.

Desta forma, detectou-se três linhagens genéticas e percebeu-se que estas salamandras provinham de vários rios e cordilheiras da China. Além da espécie de salamandra-gigante-da-china já conhecida, identificaram-se então outras duas espécies salamandras-gigantes: a Andrias sligoi, designada por salamandra-gigante-do-sul-da-china; e uma espécie encontrada nas montanhas Huangshan, no Sudeste do país, que para já não tem nome, pois ainda será descrita formalmente.

Até este momento, pensava-se que o maior anfíbio do mundo conhecido era uma salamandra-gigante da espécie Andrias davidianus, devido a um exemplar capturado nos anos 1920 na província de Guizhou, no Sul da China, que tinha 1,8 metros de comprimento. Mas, este novo estudo sugere que, afinal, esse exemplar pode ser da espécie Andrias sligoi. Porquê? A partir da distribuição dos espécimes estudados e de várias amostras genéticas, percebeu-se que a Andrias sligoi se distribui e domina mais toda a região Sul da China do que a Andrias davidianus. Como tal, a salamandra-gigante descoberta nos anos 1920 pode ser uma Andrias sligoi.

Samuel Turvey, investigador da ZSL e primeiro autor do artigo, explica, citado num comunicado da sua instituição, que as espécies de salamandra-gigante-da-china agora reconhecidas divergiram entre o final do Plioceno e o começo do Plistoceno – entre há 3,1 milhões de anos e 2,4 milhões de anos. “Estas datas correspondem a um período de formação de montanhas na China e à subida rápida do planalto do Tibete, o que pode ter isolado populações de salamandras-gigantes e levado à evolução de diferentes espécies em locais distintos.”

Sobre as novas espécies de salamandras, os cientistas destacam que entre os 17 espécimes de museu estudados agora está uma salamandra encontrada em Hong Kong em 1920, que já em 1924 tinha sido descrita como uma espécie diferente da única salamandra-gigante-da-china que se conhecia na altura. Mesmo assim, em 1968, foi considerada uma Andrias davidianus. Agora, a equipa da ZSL sugere que este exemplar possa fazer parte de uma das espécies descobertas.

Adaptar a conservação

Antes de ser uma espécie ameaçada, a salamandra-gigante-da-china distribuía-se em abundância pelo Centro, Sul e Leste da China. Está classificada como “criticamente em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza, desde 2004.

As principais causas da diminuição das populações de salamandras-gigantes-da-china são a exploração para consumo humano, a destruição de habitats e as alterações climáticas. “Esperamos que esta nova compreensão sobre a diversidade das espécies [de salamandras-gigantes-da-china] chegue a tempo de contribuir para a conservação bem-sucedida destes anfíbios”, assinala Samuel Turvey. “São necessárias medidas urgentes para proteger qualquer população de salamandras-gigantes ainda existente.”

Melissa Marr, investigadora do Museu de História Natural de Londres e também autora do artigo, acrescenta que é preciso “pôr em prática medidas de conservação coordenadas que preservem a integridade genética de cada espécie.” Os investigadores defendem ainda a actualização dos planos de conservação, de modo a reconhecer a existência destas três espécies de salamandras-gigantes. A movimentação destes anfíbios com fins comerciais também deve ser proibida para que se consiga reduzir o risco de transferência de doenças e de hibridização genética, escreve-se no artigo.

A salamandra-gigante é um anfíbio da família Cryptobranchidae, que divergiu de outros anfíbios durante o período Jurássico, entre há 200 milhões e 145 milhões de anos. Além das espécies de salamandra-gigante-da-china agora conhecidas, existem duas espécies reconhecidas de salamandras-gigantes – uma no Japão e outra nos Estados Unidos. Estes animais vivem nos rios e cursos de água e podem pôr 500 ovos de cada vez.

Texto editado por José J. Mateus

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