Queremos e exigimos mais. É a nossa vida e o nosso direito.

Queremos um salário mínimo que nos permita sair da pobreza, salários que nos dêem o direito ao lazer, à cultura e à vida. Não queremos andar de sacos às costas em cima de uma bicicleta a entregar comida. Não, não é a geração millennial. É a geração precária.

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Não me venham com a conversa dos millennials, do trabalho do futuro e do futuro do trabalho. Não me falem da flexibilidade nem da facilidade de mobilidade, não me bombardeiem com essas e outras tretas, bem como todo o tipo de tendências e modas usadas para justificar o modo miserável como nos permitimos viver as nossas vidas.

Queremos que nos falem de coisas reais e palpáveis, da vida real e concreta. Perguntem a um jovem que há um anos trabalhava num call center, tendo passado também por gestão de lojas e hoje está num café se está a achar muita piada a toda esta mobilidade e flexibilidade. Perguntem-lhe se não se sente bem como um millennial descomprometido a saltar de trabalho em trabalho sem nunca conseguir um vínculo laboral permanente. Podemos mascarar a realidade de muitas formas, mas ela é uma e não é nada bonita. Perguntem a um licenciado em História se atingiu a prossecução do seu sonho quando se viu obrigado a emigrar para fora do país, mas também para fora da sua área, se não acha que vivemos tempos maravilhosos para a juventude. A esses que gritam em viva voz que o mundo é dos jovens, por que razão é que não lhes pagam condignamente?

Não tentem vender gato por lebre a quem já nada quer comprar. Ouvir Rui Rio a afirmar que o país não tem condições para subir substancialmente os salários aborrece. Aborrece porque quando a conversa é sobre a banca ou as grandes empresas a agulheta gira de sentido e tudo lhes é dado e permitido. Não temos condições para subir salários, mas temos condições para sustentar o Novo Banco com o dinheiro de todos. Poupem-me. Queremos mais!

Queremos poder escolher onde viver, onde trabalhar e ter direitos que hoje sistematicamente nos vão sendo negados. Seis meses de experiência na celebração do primeiro contrato de trabalho? Experiências tão grandes só em pipetas!

Queremos um salário mínimo que nos permita sair da pobreza, salários que nos dêem o direito ao lazer, à cultura e à vida. Não queremos andar de sacos às costas em cima de uma bicicleta a entregar comida. Não queremos apps que nos digam como poupar nem conselhos para resistirmos a uma nova crise. Queremos viver aqui e agora, com todo o direito que temos em alcançar a felicidade.

O fosso entre ricos e pobres nunca foi tão grande em Portugal e no mundo. Nunca uma mínima parcela de pessoas teve tanto em relação aos demais. Podemos chamar a isto futuro? Podemos, mas não é aquele que queremos.

Exigimos, enquanto jovens, que o futuro não nos seja negado em prol dos grandes lucros e dos chorudos dividendos que todos os dias enchem os bolsos daqueles que já muito têm. Exigimos que os salários aumentem, que o direito ao trabalho e a trabalho com direitos seja reforçado e tido como uma grande prioridade nacional. Seremos uma geração adiada enquanto não dermos um pontapé no sistema e rompermos com a política de baixos salários e poucos direitos.

Se aqueles que porventura me acompanham nas palavras tiverem encontrado nos meus textos algumas destas preocupações, permitam-me que volte aqui a sublinhá-las e reivindicá-las porque se os problemas da vida não se alteram, também as reivindicações permanecem. Não, não é a geração millennial. É a geração precária.

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