A erva daninha de Guilherme Daniel

O realizador de Erva Daninha venceu no domingo à noite o Prémio MOTELX / Méliès d’Argent para Melhor Curta de Terror Portuguesa pelo segundo ano consecutivo.

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Com Erva Daninha, curta-metragem por ele escrita e realizada, Guilherme Daniel venceu pela segunda vez consecutiva o Prémio MOTELX / Méliès d'Argent para Melhor Curta de Terror Portuguesa. Foi entregue na cerimónia de encerramento do MOTELX, o festival de cinema de terror lisboeta, que se deu no domingo à noite, no Cinema São Jorge. O prémio dá acesso à competição internacional Méliès d'Argent, que ocorrerá no festival de Sitges, em Espanha, a 6 de Outubro.

Depois de, no ano passado, o realizador de 33 anos se ter atirado à adaptação de um conto de H.P. Lovecraft com A Estranha Casa na Bruma, desta feita escolheu uma ideia original, que gira à volta de um casal rural isolado, interpretado por Daniel Viana e Isabel Costa, que cultiva um terreno.

Guilherme Daniel começou a fazer filmes após ter acabado a Escola de Cinema em 2012. Ao telefone com o PÚBLICO, explica que não tem “propriamente uma ambição forte de ser realizador”. “Quero fazer um caminho como director de fotografia. Há um impulso criativo que me leva a fazê-las, mas é muito também um lugar de experimentação e evolução que me interessa”, afirma. O objectivo de fazer curtas foi para ele e a produtora Raquel Santos, com quem trabalha sempre, evoluírem nas suas áreas específicas, ele, que trabalha como assistente de imagem e director de fotografia em projectos de outras pessoas e publicidade, na direcção de fotografia e ela na direcção de arte. Guilherme chama à colaboradora, “co-autora do filme”, e descreve-a como alguém que “está presente em todas as fases do processo, da concepção até ao fim, mesmo que não assine a realização”.

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Não tenho propriamente uma ambição forte de ser realizador, quero fazer um caminho como director de fotografia"

Os dois escolheram o universo do terror “porque é divertido de fazer”. “É interessante ter uma camada de elementos fantásticos, ligados ao terror, como a violência ou ambientes soturnos e assustadores, mas ao mesmo tempo conseguir trabalhar outro tipo de subtextos por debaixo dessa camada”, resume. Fascina-o “o trabalho duplo, o género que está por cima e um bocado o que é mais importante escondido por baixo, que ganha força nesta maneira de ser trabalhada”.

Ganhar raízes

No caso de Erva Daninha, o autor queria explorar "uma coisa negra que pode crescer dentro de uma pessoa e ganhar raízes, começar a influenciar comportamentos e as pessoas que estão mais próximas, como namoradas ou esposas ou amigos, que sentem algo de errado com a pessoa e tentam ajudar, mas não conseguem porque a coisa está enraizada”. Prefere não usar “depressão” porque “pode ser um bocado redutor para quem passa realmente por isso”, mas “está ligado a um momento negro que às vezes temos nas nossas vidas”.

Sobre o galardão, explica que é “importante o reconhecimento” de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido “ao longo dos últimos anos”. “É uma alegria enorme e sinal de que não estamos a trabalhar em vão”, continua. “E dá sempre uma exposição diferente ao filme, é importante para mais pessoas o verem e para se conseguir continuar a falar dele.” Para ele, o importante é o prémio do MOTELX, não o de Sitges. “Acaba por ser um evento um bocado secundário, na altura tive de estar a pesquisar para ver quem é que tinha ganho e não foi fácil, é uma coisa feita à porta fechada, é um prémio importante, mas a ideia com que fiquei no ano passado é que não há grande cerimónia à volta”, conta.

A isso ajuda o valor pecuniário: o festival português dá 5000 euros aos vencedores. Foi, aliás, dessa maneira que o filme foi em parte financiado: com o dinheiro do ano passado. “É um prémio generoso, que dá pelo menos para pensar em fazer uma curta”, comenta. É que, por agora, ainda não há planos para se aventurar no mundo das longas, que “em termos de financiamento é uma escala completamente diferente” e porque não sente que “a escrita de uma longa seja  algo muito confortável”.

Não quer dizer que tal nunca vá acontecer. "Há uma ideia de, a muito longo prazo, fazer um conjunto de curtas-metragens com uma ligação entre si e dar uma longa, mas não sei o que vai acontecer”, partilha. E já tem prevista uma nova curta que não é de terror e para a qual está a tentar encontrar financiamento. Mas tem muita vontade de voltar a concorrer ao MOTELX — “é um bocado um hábito” — e, “mesmo conseguindo fazer este filme”, talvez acabe por realizar “duas curtas no próximo ano”, só para poder voltar ao festival.

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