Um dia para conhecer os micróbios “por detrás da azeitona, do queijo ou da reciclagem”

Esta terça-feira celebra-se o Dia Internacional do Microrganismo. A ideia foi lançada em 2017 por iniciativa de investigadores portugueses.

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Uma das simbioses mais conhecidas é a estabelecida entre as leguminosas (grupo de plantas que inclui ervilha, grão, soja, favas e outras) e as bactérias fixadoras de azoto com a formação de nódulos nas raízes Cristina Cruz/FCUL

O Dia Internacional do Microrganismo – com origem em Portugal – celebra-se esta terça-feira e, este ano, chega à América Latina, a África e à Ásia. Por cá, a iniciativa promovida pela Sociedade Portuguesa de Microbiologia em parceria com a Ciência Viva, a Ordem dos Biólogos (OBio) e a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) estará ao longo de todo o dia no Arco da Rua Augusta, em Lisboa, e noutros pontos do país. Em Coimbra, haverá a apresentação pública da colecção de culturas de bactérias da Universidade de Coimbra.

Os temas em destaque nas actividades do Arco da Rua Augusta são os microrganismos e a alimentação, os microrganismos na cidade e as doenças transmitidas por microrganismos. “Este ano estaremos na rua pela primeira vez e vamos interagir directamente com o cidadão que trabalha, faz compras e leva o comer para casa. Vamos poder mostrar-lhes a microbiologia por detrás da azeitona, do café, do queijo ou da reciclagem”, regozija-se Cristina Cruz, uma das precursoras do Dia Internacional do Microrganismo e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), em declarações ao PÚBLICO.

As comemorações decorrem em todo o país, dirigem-se a todos os públicos e são gratuitas. Em Coimbra, as actividades já começaram este sábado no Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra. Na terça-feira, às 12h, haverá a apresentação pública da colecção de culturas de bactérias da Universidade de Coimbra, a primeira colecção portuguesa de bactérias registada e reconhecida pela Federação Mundial de Colecções de Cultura. O programa nacional encontra-se em actualização e mais actividades e locais poderão ser acrescentados. Estão confirmadas iniciativas em Bragança, Covilhã, Algarve, Açores, entre outros.

No Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, as actividades serão sobre os micróbios do nosso intestino e vão das 17h30 às 21h de terça-feira. Será apresentado o livro de contos infantil “Histórias num admirável mundo invisível”, de Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO e outra das fundadoras do Dia Internacional do Microrganismo. O Instituto Superior Técnico (IST) tem apresentações e actividades preparadas para o dia inteiro, tal como o Instituo de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa. No Porto, a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa do Porto e o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto juntam-se às comemorações.

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Teste para avaliar a sensibilidade de bactérias a antibióticos. Quanto maior for o halo transparente à volta do disco impregnado com antibiótico maior a sensibilidade das bactérias ao antibiótico. Cada disco contem um antibiótico diferente. Lélia Chambel; FCUL

O Dia Internacional do Microrganismo tem o apoio da Comissão Nacional da UNESCO e da Federação Europeia de Sociedades de Microbiologia. A nível europeu, está confirmada a realização de actividades na Lituânia, Ucrânia, Moldávia e Sérvia. Este ano, pela primeira vez, haverá celebrações fora da Europa, mais precisamente em Cuba, Argentina, Brasil, África do Sul, Angola, Japão e Índia.

Realçar os “seres invisíveis”

Cristina Cruz e Maria Amélia Martins-Loução são investigadoras no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da FCUL. A ideia de comemorar o Dia do Microrganismo surgiu em 2015 em conversa com o gabinete de comunicação do ce3C. A promoção da data e a mobilização de outras entidades têm sido conseguidas com o apoio dos investigadores José Matos, da OBio, Rogério Tenreiro, da FCUL, e Isabel Sá Correia, do IST.

Celebrado pela primeira vez em 2017, o Dia do Microrganismo “tem por objectivo alertar para a importância destes seres invisíveis em todas as dimensões do nosso dia-a-dia”, refere o comunicado do cE3c. “Os microorganismos são factores de produção na Agricultura, na Indústria, na Saúde e no bem-estar. São uma parte integral da vida e do planeta”, lembra, ao PÚBLICO, Cristina Cruz. “A população em geral não se apercebe que uma série de microrganismos contribui para as pessoas serem como são, para a forma como vivem e como se alimentam. Há um mundo invisível a olho nu fundamental para a nossa saúde e a sustentabilidade do planeta.”

O dia escolhido, 17 de Setembro, corresponde ao dia em que, em 1683, Anton van Leeuwenhoek enviou uma carta à Royal Society de Londres descrevendo pela primeira vez um microrganismo. Observou bactérias vivas numa placa dentária através de lentes e microscópios que desenvolveu.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas

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