Grupos pró e contra Pequim entram em confrontos nas ruas de Hong Kong

Manifestantes trocaram murros e até usaram guarda-chuvas como armas em confrontos num centro comercial. Protesto proibido realizou-se e o dia está a ser encarado como o prenúncio do que pode acontecer na manifestação de domingo.

Foto
Manifestantes pró e contra Pequim envolveram-se em confrontos LUSA/JEROME FAVRE

Manifestantes pró e contra Pequim envolveram-se em confrontos nas ruas de Hong Kong. O governo de Carrie Lam proibiu os protestos marcados para este sábado mas foi desafiada mais uma vez. Os protestos já duram há quase quatro meses e não há solução política à vista.

Centenas de manifestantes anti-governo marcharam no bairro de Tin Shui Wai e as autoridades pararam os transportes públicos. Os manifestantes confrontaram-se com uma barreira da polícia e viram o trajecto bloqueado, com as autoridades a levantarem uma bandeira azul a avisá-los de que estavam a participar numa assembleia ilegal.

Não houve confrontos e a polícia e os manifestantes mantiveram-se a uma distância de 50 metros, diz o South China Morning Post, com os segundos a erigirem uma barricada, algo já comum ao longo dos protestos contra a crescente influência chinesa na região administrativa especial.

A alguma distância, no Plaza Amoy, um centro comercial em Kowloon Bay, dúzias de manifestantes pró-Pequim e anti-governo envolveram-se em confrontos. Os primeiros empunhavam bandeiras chinesas, elogiavam as autoridades e entoavam palavras de ordem a favor de Pequim, quando o outro grupo, vestido de negro e usando máscaras, apareceu. Trocadas algumas palavras, começaram a desferir murros, pontapés e até a usar guarda-chuvas (o símbolo do movimento pró-democracia) como armas.

A polícia deteve uma pessoa e os manifestantes anti-governo abandonaram o local. Registaram-se mais alguns confrontos na mesma zona, onde estava um mural contra o executivo, e uma pessoa teve de ser transportada para o hospital. 

No centro de Hong Kong, mais de 100 estudantes do secundário concentraram-se para cantar o hino dos protestos, o “Glória a Hong Kong”. “Estou aqui a mostrar apoio à geração mais nova”, disse ao Guardian Cheng, estudante universitária de 21 anos. “Só por uma exigência ter sido aceite, isso não quer dizer que vamos recuar. Vamos continuar a lutar por todas as cinco exigências”, garantiu.

A estudante universitária referia-se à cedência de Lam em retirar definitivamente a lei de extradição para a China continental e que fez eclodir os protestos. Porém, para os manifestantes a sua decisão foi tarde de mais.

As outras quatro exigências dos manifestantes são o sufrágio universal nas eleições para escolher a chefe do governo e o parlamento, a demissão de Lam, uma investigação independente à violência policial, a libertação imediata dos detidos nos protestos e o fi mda classificação das manifestações como “motins”.

Mas Lam já recebeu instruções de Pequim para não ceder a mais nenhuma exigência, mesmo que os analistas considerem que o regime chinês está desejoso de acabar com os protestos pró-democracia até 1 de Outubro, quando se celebra o 70.º aniversário da fundação da República Popular da China, diz o Guardian.

Os protestos deste sábado foram o prenúncio dos protestos convocados para domingo e proibidos pelas autoridades. A Frente Civil dos Direitos Humanos, responsável por levar mais de dois milhões de pessoas para as ruas, convocou uma concentração para este domingo, mas as autoridades recusaram-no alegando motivos de segurança e usando o exemplo de uma estação de comboio que ardeu recentemente. 

Há semanas que Pequim mantém destacados militares e polícias em Shenzhen, na fronteira com Hong Kong. Realizam exercícios anti-motim com cenários bastante semelhantes aos vividos na megacidade e fala-se até cantonês (mais falado em Hong Kong do que o mandarim) nos avisos feitos nestes exercícios. Pequim divulgou uma série de vídeos destas simulações, no que pode ser encarado como aviso aos manifestantes. O governo de Hong Kong não afasta a hipótese de declarar o estado de emergência se os protestos continuarem. 

A transferência de Hong Kong da soberania britânica para a chinesa aconteceu em 1997 sob o princípio “dois sistemas, um país”, que os organizadores e participantes nos protestos diz estar em causa.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários