O olival intensivo ocupa apenas “1,5% do conjunto da área do Alentejo”?

António Costa fez esta declaração no debate com André Silva, do PAN.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

A frase

"A região do Alentejo tem 3 milhões de hectares, a área de olival são 170 mil hectares. A parte relativa ao olival intensivo é 1,5% do conjunto da área do Alentejo"

O contexto

No debate com André Silva do PAN na SIC, esta semana, António Costa assumia que no programa eleitoral do seu partido se dá prioridade “à revitalização do mundo rural”, e à preservação de uma “floresta equilibrada” que não seja dedicada “à monocultura do eucalipto do pinheiro ou das espécies de crescimento rápido”. E foi neste ponto que André Silva, acrescentou, em surdina: “Como o olival”.

A moderadora aproveitou a dica de André Silva para lhe pedir que aprofundasse a razão da sua achega à intervenção de António Costa. O deputado do PAN criticou a opção económica baseada no “crescimento ilimitado do faz primeiro para remediar depois”, acusando o Partido Socialista de estar “a transformar o Alentejo num olival intensivo com um gasto de água excessivo e que não toma em linha as alterações climáticas e também ao nível da erosão dos solos, da contaminação com fertilizantes e fitoquímicos”.

O secretário-geral socialista entendeu ser necessário “colocar as questões nos seus devidos termos”, argumentando que a “região do Alentejo tem 3 milhões de hectares” e que neste imenso território apenas “170 mil hectares” são área ocupada por olival, procurando desvalorizar os argumentos dos que criticam o crescimento progressivo as culturas intensivas.

Os factos

A opção pelos 3 milhões de hectares dá uma noção de grandeza muito mais substancial que os cerca de 1,9 milhões de hectares que constitui a Superfície Agrícola Utilizada (SAU) da região, dados utilizados pelo INE. Uma coisa é o território no seu todo, que inclui zonas urbanas, rede hidrográfica, albufeiras, charcas, aeroportos, terras incultas, floresta, entre outras, e outra, a área com aptidão agrícola.

Se os 170 mil hectares são a área ocupada por todo o tipo de olival (tradicional incluído), as plantações em modo intensivo, para António Costa, ocupam “1,5% do conjunto da área do Alentejo”. E neste dado reside uma dúvida. Se são 1,5% de 3 milhões de hectares, isso perfaz 45 mil hectares de olival intensivo. No entanto, e recorrendo aos números do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (MAFDR) só na região do Alqueva estão plantados, neste momento, perto de 80 mil hectares (cerca de 60 mil nos blocos de rega e cerca de 20 mil na sua periferia). Por se tratar de uma cultura permanente dinâmica, as plantações prosseguem, sabendo-se que já se estendem ao Alentejo Central e Norte Alentejano, admitindo-se que possam ter sido ultrapassados os 100 mil hectares. Mas se Costa reportou o valor de 1,5% de área plantada em modo intensivo aos 170 mil hectares, então a área ocupada ficaria pelos 21,5 mil hectares, muito longe dos 100 mil hectares já referidos.

Em resumo

Os vários números usados por António Costa nesta afirmação não batem certo com as estatísticas oficiais nem com os números divulgados pelo próprio Governo. 

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