Greve contra reforma da segurança social de Macron paralisa Paris

Três sindicatos do metropolitano da capital francesa em protesto contra a reforma da segurança social. É a maior greve dos últimos 12 anos no metro de Paris. Há protestos de outros sectores na semana que vem e sindicatos marcaram duas manifestações nacionais para 21 e 24 de Setembro.

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Os trabalhadores entendem que deram um "duro golpe" ao Governo de Macron CHRISTIAN HARTMANN/Reuters

A capital francesa está esta sexta-feira parada. Os trabalhadores da RATP, o metropolitano de Paris, fizeram greve contra a reforma da segurança social do Presidente francês, Emmanuel Macron. Os passageiros de dez das 16 linhas da cidade não viram o metropolitanos passar. É a maior greve de metro dos últimos 12 anos.

“Trabalhamos no duro, as pessoas vêem que estamos atrás do balcão, mas trabalhamos dia e noite e fazemos parte de um dos ramos com a maior taxa de divórcio”, disse o funcionário de estação Christian Gaspy, de 53 anos, ao Libération.

Gaspy vê os efeitos da greve e a cidade paralisada e celebra-o com os colegas. “É uma agradável surpresa”, admite, com um seu colega a acrescentar: “Estamos surpreendidos, porque em geral as greves não têm muita adesão. Basta ver o trânsito para perceber que demos um duro golpe”.

Houve quase 300 quilómetros de engarrafamentos e os táxis invadiram a capital francesa, diz o Le Monde. As linhas de metro não funcionavam e quem pôde ficou em casa a trabalhar e quem pôde viu-se obrigado a encontrar alternativas de transporte: bicicleta, trotinete, entre outros. Porém, o trânsito acalmou ao fim da manhã.

De acordo com o jornal francês Le Parisien, os serviços mínimos decretados não foram cumpridos na manhã desta sexta-feira. Em 2007, depois de uma greve pelas mesmas razões contra o antigo Presidente Nicolas Sarkozy, o Estado francês impôs a obrigatoriedade de serviços mínimos em greves do sector.

Os três sindicatos dos trabalhadores do RATP convocaram a greve contra a reforma da segurança social que Macron quer implementar. Encaram-na como ataque aos seus direitos ao retirar-lhes a hipótese da reforma antecipada, negociada décadas atrás para compensar o facto de trabalharem muitas horas. Em média, os trabalhadores da RATP reformam-se aos 55 anos, enquanto os restantes trabalhadores o fazem aos 63, diz a BBC.

“Se eu me reformar aos 52 anos, como é hoje permitido, vou receber 1451 euros brutos. Acha que se pode viver com isto? Com a reforma [da segurança social], será pior. Teremos que trabalhar mesmo depois de nos reformarmos”, explicou um outro trabalhador ao Libération. Os sindicatos dizem que esta reforma vai reduzir em 500 euros as pensões dos trabalhadores de uma profissão de desgaste rápido.

Os trabalhadores dos comboios estão longe de ser os únicos a ser afectados. A reforma pretende substituir o actual sistema de 42 anos de contribuições por um universal baseado em pontos, que, caso avance, vai acabar com uma série de vantagens nas reformas de marinheiros, notários e até trabalhadores da ópera de Paris. Há 42 regimes especiais em França. 

“Não é uma greve dos poucos privilegiados”, garantiu Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, uma das maiores centrais sindicais francesas, à rádio FranceInfo. “É uma greve em que os trabalhadores dizem: ‘Queremos reformar-nos a uma idade razoável e com uma pensão razoável”. 

O Presidente e os trabalhadores estão há muito de costas voltadas, com os últimos a organizarem greves gerais e protestos desde que Macron chegou ao Palácio do Eliseu. O Presidente prometeu reformar a economia liberalizando o mercado de trabalho, mas quem trabalha encara as suas reformas como cortes salariais, aumento da precariedade, diminuição das contribuições para a segurança social. Ao mesmo tempo, o chefe de Estado cortou os impostos às grandes fortunas - na ordem dos quatro mil milhões de euros - e reduziu os gastos públicos, o que levou a que lhe chamassem “Presidente dos ricos”. 

O Governo quer que o projecto-lei seja votado na Assembleia Nacional no início de 2020 e os trabalhadores prometem fazer-lhe frente. A partir da próxima semana, advogados, médicos, pilotos, comissários de bordo e funcionários da companhia francesa de electricidade vão começar a protestar, a que se juntam duas manifestações nacionais de sindicatos a 21 e 24 de Setembro.

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