“Brexit”. Sim, devemos esperar o pior

Se os britânicos revelam uma acentuada tendência para o abismo, os portugueses não podem responder com o seu proverbial jeito para o improviso. Vamos lá acertar os relógios?

Vamos lá fazer como nos filmes do “agente de Sua Majestade” e acertar os relógios para estarmos todos sincronizados no momento crucial desta espinhosa missão a que se convencionou chamar “Brexit": o dia 31 de Outubro.

Esta data, que já foi 29 de Março e 22 de Maio, marcará com grande probabilidade a saída do Reino Unido da União Europeia, sem qualquer tipo de acordo. É verdade que já andamos nisto há três anos e que ninguém munido de alguma dose de razoabilidade achava que um país com a interdependência que os ingleses têm com a UE fosse capaz de quebrar esta aliança sem qualquer tipo de entendimento. Mas o comportamento de quem mora no número 10 de Downing Street tem revelado que apostar num novo adiamento é capaz de não ser muito avisado.

“Você devia estar em Bruxelas a negociar e está em Morley, em Leeds...”, disse um popular a Boris Johnson numa declaração de absoluta clarividência sobre a atitude do primeiro-ministro britânico. Quando substituiu Theresa May, Boris disse que a possibilidade de sair sem acordo era uma arma negocial que deveria manter em respeito uma UE que tem igualmente muito a perder com a saída desordenada. Só que, desde aí, os esforços reais para negociar, nomeadamente na matéria mais controversa, o backstop na Irlanda do Norte, foram nulos, como puderam constatar ontem os eurodeputados da boca do principal negociador europeu, Michel Barnier.

Se isto não serve de alerta para os que ainda acham que a voz da razão se pode fazer ouvir, e se agarram à decisão do Parlamento de considerar ilegal a saída sem acordo, talvez não seja demais lembrar que o primeiro-ministro disse que preferia “morrer numa valeta” a pedir um novo adiamento, e que uma sondagem recente mostra que 73% dos eleitores conservadores acham mesmo admissível arriscar a desagregação do Reino Unido, com a saída da Escócia, de Gales e da Irlanda do Norte, se for esse o preço a pagar pelo “Brexit”.

Que só duas empresas portuguesas tenham recorrido a fundos que lhes permitem precaver a saída sem regras daquele que, em 2018, era o nosso melhor parceiro em trocas comerciais só pode ser motivo de preocupação e é de saudar a preocupação do Governo de contactar as empresas uma a uma, na esperança de minimizar o impacto do “Brexit”. Se os britânicos revelam uma acentuada tendência para o abismo, mesmo depois de ontem ter sido revelada uma previsão das consequências da saída desordenada, os portugueses não podem responder com o seu proverbial jeito para o improviso. Vamos lá acertar os relógios?

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