IFD reforça apoios a startups e empreendedores digitais

Com o programa Portugal Tech já no terreno, a IFD, em parceria com o Fundo Europeu de Investimento (Filial do grupo BEI), a Universidade de Coimbra e o Público, organiza o Startup Capital Summit, destinado a promover os mecanismos de financiamento hoje disponíveis para startups e projectos de empreendedorismo ainda em fase embrionária.

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Depois de primeiros passos titubeantes, a Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) está, desde meados do ano passado, no terreno. Uma notícia bastante positiva para a economia portuguesa já que, desde aí, a IFD apoiou mais de 2.000 empresas, disponibilizando uma quantia superior a mil milhões. Afinal, falamos da sociedade financeira pública que deve desenhar e operacionalizar soluções de financiamento adaptadas às necessidades e capacidades do tecido empresarial português, sobretudo PME, mas também às mid caps (com 250 a 3.000 trabalhadores), com especial ênfase na capitalização e financiamento de médio e longo prazo da actividade produtiva.

Nascida em 2014, a IFD precisou de lidar nos primeiros anos com diversos obstáculos burocráticos, mas também com uma certa indefinição relativamente ao seu objectivo último. Só em Dezembro de 2016, ano em que abriu a sua primeira linha de crédito, viria a obter a licença da Direcção-Geral da Concorrência da União Europeia para ter acesso a financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI), momento a partir do qual assegurou uma maior amplitude de acesso a financiamentos, mas também de destinatários dos seus serviços.

Mas ainda tardaria um pouco até se poder decretar ultrapassada a longa fase de arranque. Meses depois de obtida a licença, a IFD acabaria por ficar sem comissão executiva, situação ultrapassada em Agosto do ano passado, depois da equipa do novo CEO, Henrique Cruz, que já liderava a comissão executiva da IFD, ter obtido todas as aprovações exigidas – CRESAP e Banco de Portugal. Estavam finalmente reunidas as condições para a IFD iniciar a execução dos seus projectos.

Como objecto social, a IFD tem a gestão e administração de fundos de investimento (e outros patrimónios ou instrumentos autónomos), a realização de operações de crédito, incluindo garantias, a organização de operações para captação de recursos financeiros e também a oferta de serviços de consultadoria a empresas. Sedeada no Porto, coloca-se como uma instituição de “banca de segundo piso”, não concedendo crédito directamente, mas procurando colmatar falhas de mercado no acesso a financiamento, numa fase em que o crédito não está tão caro, mas sobretudo escasso. Dar estratégia e direcção aos recursos financeiros públicos, alavancando-os em co-financiamento privado, é a sua missão prioritária, missão que ganha especial relevo agora que se aproxima o novo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e, em especial, a transição do Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos (FEIE) para o InvestEU, novo programa de apoio ao investimento comunitário.

Como podem as startups beneficiar de apoio financeiro? 

Para o período 2021-2027, a aposta da CE passa pelo reforço dos instrumentos financeiros através de uma parceria mais próxima com privados e bancos de desenvolvimento como a IFD, propondo-se a potenciar investimentos até 650 mil milhões de euros em co-financiamento em projectos de PME que abranjam as áreas da sustentabilidade, investigação, inovação ou digitalização. Mantendo-se a quota portuguesa no FEIE no InvestEU, falamos de cerca de 14,3 mil milhões de euros de que a economia poderá beneficiar no âmbito do novo quadro. Em termos comparativos, e até Julho último, ao abrigo do FEIE o financiamento total em Portugal atingiu 2,6 mil milhões de euros, “prevendo-se que mobilize investimentos adicionais no valor de 9,5 mil milhões de euros”, calculou o CEO da IFD em recente artigo de opinião no PÚBLICO. 

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Para canalizar estes fundos e apoios para o tecido empresarial e colmatar as falhas de mercado, a IFD desenvolve instrumentos de Capital, que permitem aos operadores de capital de risco e os Business Angels beneficiarem de comparticipação de fundos IFD entre 40 a 85%, instrumentos de Crédito, com empréstimos até 15 anos, com 4 anos de carência de capital e instrumentos de Garantia até 80 % dos empréstimos bancários, sem custos para as empresas​. Produtos que se ramificam em instrumentos co-financiados pelo Portugal 2020, gestão de financiamentos ou pela coordenação de participadas financeiras e desenho de soluções, além de apoios para contragarantias, bonificações de juros, subscrição de capital de risco ou maior ligação com Business Angels, para que estes invistam mais em PME.

Mas todos estes instrumentos e ramificações também se subdividem em sectores, forma de melhor os adaptar às especificidades de cada área, como o caso das empresas de base tecnológica, foco do programa Portugal Tech lançado pela IFD em parceria com o Fundo Europeu de Investimento no final de 2018 e que já começou a levar frutos aos destinatários finais. Com 100 milhões de euros de dotação inicial, acordados entre IFD e FEI, este programa já comprometeu perto de 60 milhões de euros em três fundos privados de equipas portuguesas (Indico Capital Partners, Armilar Venture Partners e Vallis Capital Partners), a quem caberá avaliar e investir em empresas específicas.

Cada um destes fundos tem quatro a cinco anos para escolher startups e PME onde investir, e até ao momento já conta com investimentos em dez empresas, entre as quais a Vawlt Technologies, SoundParticles, Bitcliq, Attentive, Barkyn e Zenklub. Além da dotação da IFD e do FEI, este programa também tem captado verbas junto de investidores privados, tendo como objectivo mobilizar cerca de 300 milhões de euros neste sector da economia portuguesa. Para que tal aconteça, porém, é preciso que as próprias visadas conheçam o que têm à sua disposição, sendo esse o principal objectivo do Startup Capital Summit, cuja primeira edição decorre a 18 de Setembro, no Pavilhão Centro de Portugal, em Coimbra.

Contando com mais de 50 especialistas em transferência de tecnologia, financiamento, capital de risco e políticas públicas de apoio ao investimento, o dia será divido em seis painéis e várias mesas redondas a decorrer em paralelo à conferência. Os painéis serão dedicados à atracção de valor, ao preço do smart money e no início da tarde o presidente da IFD e o director de Equity do FEI farão uma apresentação sobre o Portugal Tech, que será reforçada ao longo do dia com intervenções dos representantes dos fundos privados já envolvidos neste programa de apoio ao tecido tecnológico português. Uma oportunidade única não apenas para conhecer todos os apoios já ao dispor de startups e PME de base tecnológica em Portugal, mas também para reforçar o networking e perceber o “quem é quem” em todo o ecossistema, de parceiros públicos a privados.