Republicanos vencem eleição especial na Carolina do Norte, mas a sua vantagem está em risco

Depois de uma primeira eleição marcada por fraude eleitoral, o candidato do Partido Republicano venceu a corrida para a Câmara dos Representantes por apenas dois pontos percentuais, num distrito onde os republicanos não perdem desde 1962.

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Donald Trump esteve no último comício da campanha de Dan Bishop Reuters/KEVIN LAMARQUE

O Partido Republicano venceu uma importante eleição na terça-feira, no estado americano da Carolina do Norte, que se transformou num símbolo da batalha nacional entre o peso do eleitorado pró-Trump e a estratégia do Partido Democrata para vencer as presidenciais de 2020. Num distrito onde os republicanos não perdem uma eleição desde 1962, e onde Donald Trump bateu Hillary Clinton por 12 pontos percentuais há três anos, o candidato democrata ficou a apenas dois pontos do seu adversário.

A vitória do republicano Dan Bishop foi saudada pelo Presidente Trump, que publicou 11 mensagens de apoio ao candidato, na sua conta no Twitter, entre segunda e terça-feira.

“A CNN e a MSNBC estavam preparadas para comemorar uma grande vitória, até que o Dan Bishop venceu o Distrito 9 da Carolina do Norte. Agora mal vão ouvi-los falar sobre a eleição”, disse o Presidente norte-americano.

Pouco antes, Trump destacara o seu papel na campanha do candidato republicano: “Dan Bishop estava 17 pontos abaixo há três semanas. Ele pediu-me ajuda, em conjunto mudámos a sua estratégia, e acabou por fazer uma grande campanha.”

A importância desta eleição levou Trump e o vice-presidente, Mike Pence, a participarem em comícios no último dia da campanha, um em cada lado do distrito. E os analistas admitem que esse apoio foi fundamental. Muitos eleitores republicanos podem ter ficado entusiasmados com a presença dos dois líderes e decidiram, nas últimas horas da campanha, ir votar – e a afluência às urnas pode ser fundamental numa corrida tão disputada.

Para além da vitória no Distrito 9, o Partido Republicano venceu também uma outra eleição na Carolina do Norte, no Distrito 3. Mas, neste caso, o lugar do partido nunca esteve em causa – Greg Murphy venceu o seu adversário do Partido Democrata, Allen Thomas, com uma vantagem de 24 pontos percentuais. Esta eleição foi convocada após a morte do anterior congressista, Walter B. Jones Jr., em Fevereiro, ao fim de 24 anos no cargo.

Fraude e gerrymandering

Na terça-feira, os olhos dos responsáveis do Partido Democrata e do Partido Republicano estavam postos mais ao lado, no Distrito 9.

Em causa estava um lugar na Câmara dos Representantes dos EUA, que ficou vago após a anulação do resultado inicial por fraude eleitoral.

Em Novembro de 2018, o candidato do Partido Republicano, Mark Harris, venceu a eleição por apenas 905 votos em 282.000. Mas, em Fevereiro, a comissão de eleições local deu como provado que a campanha de Harris cometera fraude – nas zonas rurais, funcionários da campanha republicana foram às casas de eleitores afro-americanos idosos para manipularem os seus boletins de voto antecipado.

Para vencer no Distrito 9 da Carolina do Norte, o Partido Democrata tinha uma tarefa muito complicada. Para além das décadas de domínio republicano, e da vitória esmagadora de Donald Trump em 2016, a demarcação das fronteiras também favorecia o Partido Republicano até há pouco tempo – há três anos, um tribunal ordenou o redesenho do distrito, por entender que o anterior não representava de forma justa as minorias (uma prática conhecida nos EUA como gerrymandering).

Na terça-feira, quando o republicano Dan Bishop e o democrata Dan McCready foram disputar a eleição, os seus dois partidos (e organizações a eles associadas) tinham gasto quase 20 milhões de dólares na campanha – um sinal da sua importância para as narrativas que o Partido Republicano e o Partido Democrata querem impor para as eleições presidenciais de Novembro de 2020.

A vitória do candidato republicano dá mais uma oportunidade ao partido – e ao Presidente Trump – para dizerem que a ideia de uma vitória estrondosa do Partido Democrata em 2020 é pouco mais do que uma invenção dos media.

Mas os democratas também têm motivos para reforçarem as esperanças. O seu candidato perdeu num distrito historicamente republicano e em que a fraude eleitoral e a supressão do voto das minorias é uma realidade, mas ficou a apenas dois pontos percentuais e venceu nas áreas mais urbanas – um sinal de que é nessa divisão do eleitorado, entre o voto pró-Trump nas zonas rurais e pró-Partido Democrata nas cidades, que se vai jogar a eleição presidencial de 2020.

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