Livros, saúde e burocracia andam sobre rodas nas ruas de Anadia

Carrinha funciona como espaço cidadão, biblioteca e unidade de saúde. Sai à rua três dias por semana, em direcção às populações mais isoladas ou com constrangimentos de mobilidade.

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Adriano Miranda
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Maria Odete tem 68 anos mas é uma fã incondicional dos livros infanto-juvenis. “Gosto destas aventuras, destas descobertas”, conta, ao mesmo tempo que arruma vários livros no regaço. Três ou quatro obras da colecção Triângulo Jota e um exemplar da série Uma Aventura. “Leio-os todos em duas semanas”, afiança esta habitante de Paraimo, em Anadia, utente assídua da Unidade Móvel de Atendimento. Um veículo que leva até às populações mais isoladas ou com problemas de mobilidade vários serviços públicos: funciona como espaço cidadão, pólo da biblioteca municipal e unidade de saúde. Com paragens em Avelãs de Caminho, Vale de Boi, Alpalhão e Pedralva, entre muitas outras localidades, esta carrinha anda há cerca de um ano a fazer-se à estrada.

“Se não fosse a viatura, eu não tinha possibilidade de ir à biblioteca buscar livros”, assegura Maria Odete, sem esconder que aproveita a passagem da unidade por Paraimo para medir a tensão arterial e a glicémia. Além de um funcionário da câmara municipal, a bordo da carrinha segue também um técnico de saúde, para fazer aconselhamento e controle da tensão e glicémia.

No dia em que o PÚBLICO acompanhou a viagem da unidade móvel até Paraimo e Fogueira a equipa de “serviço” era constituída por João Correia, técnico da Biblioteca Municipal de Anadia, e Isabel Teles, funcionária da Farmácia Termal da Curia. Ele tem sido presença assídua naquele serviço – os técnicos de saúde vão alternando, uma vez que a autarquia chamou a este projecto seis farmácias e duas clínicas privadas do município – e já conhece os utentes pelo nome. Também distingue as suas preferências no que toca a leituras e as filmes – a biblioteca itinerante também empresta Dvd´s e revistas - e, por isso, não tem grandes dificuldades na hora de preparar as estantes da carrinha para cada viagem.

A partir da mesa e do computador portátil onde vai fazendo o atendimento aos utentes da biblioteca, João Correia pode, também, ajudar os cidadãos “a pagar facturas da água ou da luz, a requisitarem cartões municipais, nomeadamente o cartão sénior, ou ajudar a preencher a declaração de IRS”, exemplifica a vereadora do pelouro da Acção Social, Jennifer Pereira. Segundo destaca a autarca, esta será a única unidade móvel do país a juntar três serviços num só e até pode vir a servir de exemplo para outras localidades.

Os números aí estão para demonstrar a sua importância: “num ano, atendemos cerca de 2.000 pessoas”, contabiliza Jennifer Pereira. E quem são os utentes desta unidade móvel? “Maioritariamente idosos, pessoas mais velhas que ainda se encontram em casa e não em instituições”, desvenda.

Roteiros abrangem 34 pontos de paragem

A carrinha sai à rua três dias por semana, cumprindo um roteiro previamente definido e divulgado junto da população. São 34 pontos de paragem diferentes, 17 em cada semana, numa rotação que acaba por levar a que a carrinha consiga passar pela mesma localidade a cada duas semanas. A excepção são os meses com cinco semanas. “Nesse caso, para não alterar o esquema das deslocações, a viatura não sai na quinta semana”, explica a vereadora.

É uma forma de manter os utentes fidelizados, presentes nos pontos de paragem no dia e à hora prevista. É o caso de Francelina Queirós, que raramente falha ao encontro marcado, de quinze em quinze dias, junto à estação da CP de Paraimos. “Vou estando mais tranquila porque vou medindo a tensão e picando o dedo”, explica, acrescentando que também é utilizadora assídua dos serviços da biblioteca. “Levo sempre uns dois a três livros”, assegura.

Noutro ponto de paragem, no Largo da Feira, na Fogueira, Lília Henriques e a mãe, Laudelina Pedro, já aguardavam a chegada da carrinha. Lília costuma requisitar livros e Dvd´s, “aos cinco e seis de cada vez”, relata, e também aproveita para fazer os rastreios de saúde. Uma grande ajuda, tanto para ela, que não tem meio de transporte, como para a mãe, que está numa cadeira de rodas. “A tensão está bem. A glicémia também, para uma pessoa com diabetes”, avaliava Isabel Teles, a propósito da condição de Laudelina.

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