Georgieva sem oposição na corrida à liderança do FMI

Apenas a União Europeia decidiu formalizar uma candidatura ao cargo de directora executiva do FMI. Nomeação oficial de Kristalina Georgieva deverá acontecer nas próximas semanas.

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Kristalina Georgieva foi a número dois do Banco Mundial nos últimos anos Reuters/Michele Tantussi

Durante pelo menos mais cinco anos, a Europa irá continuar a ter a liderança do Fundo Monetário Internacional. Sem qualquer concorrente a fazer-lhe sombra, à búlgara Kristalina Georgieva, o nome sugerido pela União Europeia para substituir Christine Lagarde na liderança do Fundo, apenas falta mesmo o anúncio formal da nomeação, para passar a ocupar o cargo de directora executiva da instituição com sede em Nova Iorque.

Desde a criação do FMI, a seguir à Segunda Guerra Mundial, que o cargo principal desta instituição é ocupado por uma personalidade proveniente de um país europeu. Este monopólio absoluto é o resultado de um acordo informal entre os EUA e os países europeus, que prevê que um norte-americano lidere o Banco Mundial e um europeu o FMI.

Nos últimos anos, contudo, tem vindo a ser notório o descontentamento das potências mundiais emergentes com esta partilha de lideranças entre EUA e Europa. E quando Christine Lagarde foi eleita pela primeira vez em 2011 contou com a oposição de candidatos provenientes da América latina e da Ásia. Esperava-se que, desta vez, a oposição pudesse ainda ser maior. Mas, não. A candidata europeia vai ser, mais uma vez, a escolhida.

Num comunicado emitido esta segunda-feira, o FMI revelou que Kristalina Georgieva foi, até ao final do prazo dado para apresentação de candidaturas na passada sexta-feira, o único nome proposto, sendo por isso a única que irá ser sujeita à fase final do processo de selecção para o cargo de directora executiva, que deverá ser concluído até 4 de Outubro.

Formalmente, os Estados membros do FMI ainda irão avaliar as qualificações da candidata, mas na prática não se consegue antever outro resultado final que não seja a nomeação de Georgieva para o lugar que era de Christine Lagarde.

A caminhada da economista búlgara até à liderança do FMI não foi, no entanto, fácil. O processo de escolha de Kristalina Georgieva como candidata europeia foi mesmo bastante mais complexo do que é habitual. As diversas capitais da UE não conseguiram chegar a um consenso e viram-se forçadas, de forma inédita, a recorrer a votações sucessivas que foram eliminando os nomes em consideração, numa lista que incluía também o ministro das Finanças português Mário Centeno. No final, sobravam Jeroem Dijsselbloem e Kristalina Georgieva. Com o apoio determinado da França e a ajuda da aversão dos países do Sul ao ex-presidente do Eurogrupo, a candidata búlgara venceu, por margem apertada.

Para além disso, apenas na semana passada, Georgieva ultrapassou um último difícil obstáculo, quando o conselho de governadores do FMI aprovou uma alteração ao limite de idades imposto para o cargo de director executivo. A candidata búlgara, que já ultrapassou o anterior limite de 65 anos, passou a poder ocupar o lugar sem qualquer violação dos regulamentos.

Kristalina Georgieva, que nos últimos anos foi a número dois do Banco Mundial, terá agora diversos desafios pela frente. Em primeiro lugar, o Fundo terá de ajudar a economia mundial a navegar numa conjuntura económica com diversos riscos. Até aqui, como Christine Lagarde ao leme, o FMI tem apelado (sem sucesso) a que os países não recorram a políticas comerciais proteccionistas, tem apelado a que os bancos centrais mantenham políticas expansionistas e tem pedido a alguns países, especialmente a Alemanha, que contribuam para o crescimento com mais investimento público. Tudo aponta para que a nova directora executiva mantenha o mesmo tipo de mensagem.

Depois, Kristalina Georgieva terá de dar um novo ímpeto à reforma do FMI, dando às potências emergentes a esperança de que passarão a ter maior poder na instituição num futuro próximo. O facto de não terem surgido concorrentes é sinal de que esses países acreditam que a nova directora executiva está disposta a fazer esse caminho.

E, no imediato, a nova líder do FMI terá de fazer face a um problema que vários antecessores também tiveram: uma crise financeira na Argentina, num cenário em que o programa de resgate delineado pelo Fundo é acusado de ter agravado ainda mais a situação.

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