Jerónimo pisca o olho aos eleitores que um dia já votaram no PCP

Jerónimo de Sousa encerrou a Festa do Avante! a apelar ao voto no partido que “nunca traiu” o voto de nenhum eleitor.

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A festa do Avante! terminou este domingo no Seixal LUSA/MÁRIO CRUZ

O PCP não quer deixar palavras como “estabilidade” e “confiança” para partidos alheios e decidiu apropriar-se de uma dessas palavras para descrever aos eleitores o modo como se vai apresentar às eleições legislativas de Outubro: “Confiança é a nossa palavra de ordem”, disse Jerónimo de Sousa aos microfones no comício de encerramento da 43º Festa do Avante!. O secretário-geral do PCP diz que o partido “nunca traiu” o voto de ninguém e é o único que “conta, e conta bem, para impedir a maioria absoluta do PS”.

Jerónimo de Sousa tem visto que as sondagens dão os comunistas a perder votos e, depois das autárquicas e das europeias, altura em que se supõe que tenha havido muitos casos transferência de voto da CDU para o PS, o secretário-geral do PCP pede para que todos se mobilizem e falem com outros eleitores, incluindo aqueles que “alguma vez” votaram na CDU, para lhes lembrarem “que o seu voto nunca foi traído, sempre respeitado, sempre honrado”.

O objectivo primeiro, para os comunistas, é o de “confirmar e alargar a influência nos círculos onde o PCP tem deputados”. Só depois vem a ambição de eleger parlamentares naqueles distritos onde a coligação não os tem. Em resumo, é preciso “crescer em votos e em deputados confiantes no trabalho executado”, disse o líder do PCP.

Durante cerca de uma hora, Jerónimo de Sousa puxou para o partido o “papel decisivo” nas melhorias da actual legislatura. “Há quatro anos, travámos e vencemos a luta dos trabalhadores e do povo”, afirmou. Esse papel “decisivo” incluiu a tarefa de mostrar que as eleições de 2015 quebraram com o “círculo vicioso” de constituição de governos. “Estes quatro anos mostraram que valeu e vale a pena a luta para abrir caminho. Mostraram quão falsas eram as recorrentes campanhas que faziam crer que as eleições são para eleger primeiros-ministros. As eleições não são para eleger o primeiro-ministro, são para eleger deputados. A vida política nacional desfez esse engano com decisivo contributo do PCP”, referiu.

A luta do PCP, já o tinha referido na sexta-feira, é a de evitar uma maioria absoluta do PS: “Não há vencedores antecipados. Todos os caminhos estão em aberto. Não encontrarão outra força política que dê garantia ao que se conquistou e para avançar”.

Pronto-socorro

“Avançar” é o verbo utilizado pelo comunista em contraponto com aquilo que considera que o PS se prepara para fazer: andar para trás. “Hoje precisamos de travar uma nova batalha, a da criação de condições para continuar a avançar e impedir que se ande para trás”, disse. Os sinais já os vê, sobretudo na questão da lei laboral, na qual, recordou, o PS contou com o apoio do PSD: “Este PSD que em relação ao PS funciona sempre como pronto-socorro”, comentou.

Numa altura em que muitos olham para uma disputa à esquerda, entre PCP e BE, Jerónimo centra o seu combate nos socialistas, sobretudo depois de António Costa ter elogiado o PCP e apontado o BE como principal inimigo. No discurso aos militantes, no encerramento da festa, Jerónimo falou naqueles que “mandam recados e recadinhos” e que “inventam falsas disputas decisivas que de decisivas nada têm”, referindo-se implicitamente a quem se refere à disputa entre os dois parceiros de solução governativa. “Ensaiam novas e falaciosas bipolarizações para ocultar o que é uma evidência: o voto na CDU conta e conta bem para evitar a maioria absoluta do PS, para não deixar o PS de mãos livres, para praticar a velha política”.

Para o futuro fica uma declaração de Jerónimo que pode ser lida à luz dos resultados eleitorais. Disse o líder comunista que o partido nunca ficou “tolhido pelas circunstâncias” e que nunca “deixa o país num beco sem saída”. O PCP “sabe o terreno que pisa e apresenta sempre soluções para os problemas”. Foi assim em 2015. Resta saber se em 2019 será preciso que assim seja.

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