Uma nova história da abstracção

Sandra Vieira Jürgens mostra, nesta exposição, que a história da arte que aprendemos nos livros não é a única que é possível contar.

Foto
Fotografias de Maria Manuel

Nos dias de hoje, já não causa estranheza ouvir este ou aquele especialista formular a opinião de que é possível escrever uma história da arte diferente daquela que aprendemos nos livros. Necessariamente eurocentrada, submetida a uma interpretação do mundo que raramente aprofunda a relação entre a arte ocidental e a criação plástica de outras civilizações e culturas, a narrativa que subjaz a quase todos os grandes compêndios de história da arte também nos diz que a abstracção surgiu na segunda década do século XX, sob o traço de Kandinsky, para se opor ao princípio mimético da realidade que dominava em toda a arte europeia desde o Renascimento. Esse surgimento está relacionado, por um lado, com a invenção da fotografia, por volta de 1850, que se veio apropriar da tarefa de reproduzir mais ou menos de forma literal o real visível; mas também com a crescente tomada de consciência pelo modernismo de que a obra artística é em primeiro lugar matéria – imbuída de significado, é certo, mas matéria antes de tudo o mais. De certo modo, o oposto do conceito de abstracção (e de um princípio estilístico com o mesmo nome, embora ele possa assumir formas muito diversas) é tido, na linguagem comum, como a figuração, embora fosse mais correcto dizer talvez que ela se opõe à ausência e ao silêncio. Por agora, e para o leigo, bastará de facto abrir qualquer manual de história da arte destinado ao ensino para ver que este binómio continua a ser tomado como uma verdade universal.

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