Lúcifer, a águia-de-Harris que expulsou as gaivotas num hotel de Gaia

“Se o peso estiver controlado, não há o risco de atacar as gaivotas”, assegura o falcoeiro que cuida da ave. A sobrevoar a zona desde o início de Agosto, a acção da águia reduziu drasticamente o número de gaivotas a rondar aquele espaço.

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LUSA/ESTELA SILVA

Chama-se Lúcifer, é uma águia-de-Harris, tem cinco anos de idade e a sua presença diária desde Agosto num hotel de luxo de Vila Nova de Gaia acabou com o ataque das gaivotas às esplanadas.

Da espécie Parabuteo unicinctus, foi comprada com seis meses a um criador e ensinada na Quarteira, no Algarve, viajando no último mês para o Porto para passar a estar três horas por dia no hotel The Yeatman e tornar-se numa solução, depois de várias alternativas testadas serem contornadas pelas gaivotas.

Nuno Silva, director de alojamento do hotel, descreve à Lusa os esforços anteriores para tentar evitar os ataques e que passaram por “sistemas de som, redes, mochos de plástico colocados no telhado e, por último, pássaros negros em papel, simbolizando águias, que a inteligência das gaivotas, pouco depois, contornou”.

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Distribuído por nove pisos na encosta de Vila Nova de Gaia, com várias esplanadas e uma piscina, depressa a administração do hotel percebeu que “tinha ali um problema, nomeadamente de manhã, na altura dos pequenos-almoços”, mas a “solução tardou em ser encontrada”.

Um contacto com a empresa TFalcon, da ilha da Madeira, abriu a porta à actual solução, uma águia-de-Harris, que começou por chamar-se Nemo, mas que acabou baptizada de Lúcifer, porque o “nome anterior não assustava tanto”, conta, entre sorrisos, o falcoeiro Eduardo Esteves, enquanto exibe a ave que, pelo seu pequeno porte, é comummente confundida com um falcão.

“Não há risco de atacar as gaivotas”

Três horas por dia, sete dias por semana, a ave de rapina surge entre as 8h e as 8h30 na esplanada do nono piso do hotel para acabar com a presença das gaivotas. A Lusa comprovou no local: no momento em que Lúcifer, no braço do falcoeiro, chegou ao seu local, onde estava uma gaivota atenta às mesas, e que imediatamente abandonou o local.

Alternar os horários entre a manhã e a tarde, “para passar às gaivotas a impressão de que a águia está sempre presente”, explica o falcoeiro, é uma aposta de futuro num projecto com outra questão essencial: o controlo da agressividade da ave.

Com o peso controlado diariamente e, no melhor cenário, pesando sempre entre as 650 e 660 gramas, Lúcifer tem, dessa forma, o seu instinto de caçar controlado pela acção do falcoeiro, que a alimenta na luva com frequência durante a vigilância.

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O hotel de luxo The Yeatman já tinha tentado outras soluções para afugentar as gaivotas da zona de restauração, como um mocho falso

“Se o peso estiver controlado, não há o risco de atacar as gaivotas”, diz Eduardo Esteves, exemplificando com o assobio que fez a ave voar do parapeito da esplanada para a luva para comer mais um pedaço de carne.

Em funções desde 1 de Agosto, a “acção da águia alterou por completo o cenário, que até então era de dez gaivotas a rondar aquele espaço, passando para apenas uma”.

Em face do “grau de satisfação da administração do hotel e dos clientes”, Nuno Silva admite que o horário “poderá a vir a ser alargado”, passando a abranger também a “zona da piscina” onde é frequente as “gaivotas também aparecerem, e não apenas para beber água”.

Proibido alimentar pombos

Tiago Cardoso, proprietário da TFalcon, diz que o trabalho “irá decorrer mês a mês” e que “não foi feito nenhum contrato formal”.

Por forma a rentabilizar as funções da águia, está a ser negociada a vigilância de um novo espaço de restauração no Porto, desta vez para afastar os pombos da esplanada.

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Em 2015, as câmaras do Porto, Matosinhos e de Vila Nova de Gaia colocaram em curso medidas para travar a proliferação de gaivotas naquelas cidades, tendo sido proibida a alimentação de aves, para além da colocação de pinos em edifícios e falcões no rio Douro.

Em Dezembro de 2011, o relatório de controlo da população de gaivotas na Área Metropolitana do Porto concluiu que a forte presença de aves aquáticas só seria atenuada com a “eliminação ou redução acentuada de alimento”.

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