Irão vai construir novas centrifugadoras, afastando-se ainda mais do acordo nuclear

Decisão de Teerão é a terceiro medida em pouco tempo que viola o acordo assinado em 2015. Ao mesmo tempo, o regime deu mais dois meses aos europeus para salvarem o tratado.

Foto
Anúncio do Presidente iraniano aconteceu poucas horas depois de os EUA terem aplicado mais sanções EPA/IRANIAN PRESIDENT OFFICE HANDOUT

O Irão anunciou novos passos no sentido de reverter os compromissos assumidos no acordo nuclear assinado em 2015, depois de os EUA terem desvalorizado uma iniciativa de França para mediar um entendimento entre Washington e Teerão.

O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, deu ordem na quarta-feira à noite para que a Organização de Energia Atómica do país abandone “todos os compromissos que estavam em vigor em relação à investigação e desenvolvimento” do programa nuclear. Desta forma, o Irão pode desenvolver centrifugadoras para acelerar o enriquecimento de urânio, embora sem ultrapassar para já os limites impostos no acordo, explica a Al-Jazira.

Trata-se do terceiro passo dado pelo Irão nos últimos meses que afasta o país dos compromissos assumidos no acordo nuclear assinado em 2015 com outras seis potências mundiais (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha). Em Julho, o regime ultrapassou os limites de armazenamento de urânio enriquecido e da percentagem de pureza das suas reservas de urânio.

O novo incumprimento iraniano foi anunciado horas depois de os EUA terem desvalorizado uma iniciativa diplomática francesa criada durante a cimeira do G7, em Biarritz, no final de Agosto. Paris propôs o estabelecimento de uma linha de crédito de 15 mil milhões de dólares (13,5 mil milhões de euros) para financiar a compra de petróleo ao Irão, e, como contrapartida, Teerão comprometia-se a voltar a respeitar os trâmites do acordo.

Durante a cimeira, o Presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou-se receptivo à proposta francesa, desde que Washington ficasse isento de contribuir para a linha de crédito. No entanto, esta quarta-feira, o representante especial do Departamento de Estado para o Irão, Brian Hook, negou sequer a existência de qualquer entendimento diplomático e anunciou novas sanções.

“Não vamos comentar uma coisa que não existe”, disse Hook, acrescentando que a estratégia de “pressão máxima” da Administração Trump vai ser intensificada. O Departamento de Estado anunciou sanções contra 16 organizações e dez pessoas que acusa de pertencer a uma rede liderada pelos Guardas Revolucionários iranianos que envia ilegalmente petróleo para a Síria, onde o regime de Bashar al-Assad tem em Teerão um importante aliado.

Mais dois meses

As hipóteses de resgatar o acordo de 2015 – rasgado por Trump em Maio do ano passado – parecem cada vez mais reduzidas, apesar de Teerão e os restantes signatários recusarem escrever a sua certidão de óbito. Neste momento, os países europeus desdobram-se em iniciativas para tentar garantir o cumprimento da exigência primordial do Irão para que se mantenha no acordo: a comercialização do seu petróleo.

O prazo dado por Teerão terminava esta semana, mas Rouhani deu aos europeus mais dois meses para oferecerem uma solução. Um diplomata francês, ouvido pela Reuters, disse que os planos de desenvolvimento de novas centrifugadoras pelo Irão “não ajuda”. “Sabíamos que não ia ser um mar de rosas”, desabafou o diplomata.

A degradação das relações entre o Irão e os EUA tem-se reflectido também nas apreensões de petroleiros no Golfo Pérsico. Na quarta-feira, Teerão anunciou a libertação de sete dos 23 tripulantes do Stena Impero, de pavilhão britânico, detido em Julho.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários