YouTube paga 154 milhões e deixa de mostrar anúncios personalizados em vídeos infantis

Autoridades nos EUA acusaram a empresa de recolher dados de crianças para publicidade, sem pedir autorização aos pais.

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O YouTube apresentava-se às marcas de brinquedos como o site preferido das crianças daniel rocha

O Google aceitou pagar 170 milhões de dólares ​(154 milhões de euros) para encerrar as investigações abertas pela Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla original) e pelo estado de Nova Iorque sobre a recolha de dados pessoais de menores no YouTube. 

Em causa está a forma como o site de vídeos, que o Google comprou em 2006, recolhe informação de crianças na plataforma para lhes mostrar anúncios personalizados, sem nunca avisar os encarregados de educação. Trata-se de uma violação directa da lei de protecção da privacidade das crianças online nos EUA, conhecida pela sigla COPPA, que dita que as empresas online não podem armazenar e utilizar dados de menores de 13 anos sem autorização.

Embora o seja necessário ter pelo menos 13 anos para criar uma conta no Google ou no YouTube, este passo não é necessário para utilizar o site de vídeos. Muitas crianças utilizam-no regularmente para ver vídeos de desenhos animados, de bricolage ou de música. De acordo com os reguladores americanos, o YouTube sabia disso.

 “O YouTube gaba-se da sua popularidade juntos das crianças junto de potenciais clientes”, destacou o presidente da FTC, Joe Simons, num comunicado publicado esta quarta-feira. Dá o exemplo de mensagens enviadas a empresas de brinquedos – como a Barbie, a Monster High, e a Hasbro – em que o Google descreve o YouTube como o “#1 [primeiro] site visitado regularmente para crianças” e “o líder a chegar a crianças entre os 6-11 anos”. Apesar disto, no que toca a respeitar a COPPA, Simons diz que a empresa se “recusou a reconhecer que partes da sua plataforma eram claramente direccionadas a crianças.”

A FTC explica que o YouTube recorria a cookies, que são pequenos ficheiros colocados nos computadores dos visitantes de sites, e “rastreadores”, que são elementos de código que seguem um utilizador na Internet. O objectivo é avaliar se o utilizador está interessado em comprar alguma coisa – por exemplo, ao registar o tempo que se passou numa página de um produto ou os objectos que foram adicionados a um carrinho de compras. O objectivo das tácticas era seleccionar os anúncios mais apelativos a incluir em vídeos para crianças.

Num comunicado sobre a multa, a presidente executiva do YouTube, Susan Wojcicki, frisa que o site sempre se orientou a “maiores de 13 anos”. “Com a explosão de conteúdo familiar e o aumento de dispositivos partilhados, a possibilidade de uma criança [assistir a vídeos] no YouTube sem supervisão aumentou”, admite Wojcicki. “Temos estado a olhar com atenção para áreas em que podemos fazer mais para dar resposta.”

Nos últimos quatro anos, o YouTube tem tentado dirigir menores de 13 anos para o YouTube Kids, que começou por ser uma aplicação móvel específica dedicada a crianças, que pode ser controlada pelos encarregados de educação. Esta semana, a empresa lançou um site próprio para este serviço, deixando de ser necessário descarregar a aplicação. Além de resolver possíveis problemas com a COPPA, a aplicação também reduz possíveis problemas com bullying, ao impedir o acesso a comentários, e permite aos pais personalizar o conteúdo que os mais novos vêem (por exemplo, limitar o YouTube Kids a vídeos com conteúdo educativo) bem como o tempo que passam na aplicação.

Com o acordo, o Google terá de pagar 34 milhões de dólares ao estado de Nova Iorque e 136 milhões à FTC por violar a lei de protecção da privacidade das crianças online nos EUA. O valor representa a maior penalização paga à FTC num caso de privacidade de menores, ultrapassando o que foi pago pelo TikTok, uma aplicação de partilha de vídeos que tem vindo recentemente a ganhar popularidade.

A partir de agora, o YouTube também terá de obrigar os criadores de conteúdo a identificar quando criam conteúdo dirigido a menores de 13 anos para evitar que apareçam anúncios direccionados para o utilizador (os vídeos continuarão a ter anúncios, mas serão genéricos).

Susan Wojcicki também anunciou um fundo de 100 milhões de dólares dedicados à criação de conteúdo adequado para crianças.

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