Lagarde promete seguir linha de Draghi mas espera não ter de “fazer tudo o que for preciso” para salvar o euro

Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu aprova nomeação da ex-directora do FMI para a presidência do BCE, com 37 votos a favor e 11 contra.

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Reuters/FRANCOIS LENOIR

Christine Lagarde não prevê nenhuma mudança drástica na gestão da política monetária da zona euro nos próximos tempos. A candidata indicada pelos líderes europeus para a presidência do Banco Central Europeu (BCE) disse esta quarta-feira ao Parlamento Europeu que não pretende desviar-se da linha definida por Mario Draghi, tanto na vigilância das taxas de juro e de inflação, como na adopção de medidas de estímulo da economia.

Mas há uma coisa em que espera distinguir-se do seu antecessor. “Espero nunca ter que dizer que vamos fazer tudo o que for preciso [para preservar a zona euro], porque, se tiver, isso significa que os restantes agentes económicos não estão a fazer aquilo que devem fazer”, afirmou Lagarde, em resposta a uma pergunta do eurodeputado socialista, Pedro Marques, sobre o compromisso assumido por Draghi para “salvar” a moeda única.

A ex-directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), e antiga ministra das Finanças francesa, foi ouvida durante a manhã pela comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, que tem obrigatoriamente que se pronunciar sobre a nomeação para o BCE, ainda que o seu parecer não seja vinculativo. Ao final do dia, os eurodeputados aprovaram, com 37 votos a favor, 11 contra e quatro abstenções, uma proposta a recomendar Christine Lagarde para o cargo. A votação da recomendação pelo plenário acontecerá já na próxima sessão em Estrasburgo, entre 16 e 19 de Setembro. 

No seu discurso de apresentação, Christine Lagarde, que tem formação jurídica, fez questão de afirmar as suas credenciais para o cargo. “Desde Julho de 2011, tive o privilégio de liderar uma instituição [FMI] que é central para a estabilidade financeira global e cujos governadores são os bancos centrais. E nessa capacidade, como já antes enquanto ministra das Finanças, pude contribuir para o desenvolvimento de instrumentos de resolução de crises e de regulação financeira, ao nível europeu e internacional”, assinalou, destacando particularmente o seu envolvimento directo no trabalho para “fortalecer a união económica e monetária”.

Esse é um objectivo que disse querer continuar a promover à frente do BCE. “A união bancária e a união dos mercados de capitais precisam de ser concluídas para promover a partilha do risco na zona euro e expandir o acesso ao financiamento”, defendeu.

Na sua lista a curto prazo está também a conclusão da reforma do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o estabelecimento de um novo mecanismo de apoio financeiro (ou backstop) para o Fundo Único de Resolução e a criação de um instrumento orçamental para a convergência e competitividade (vulgo orçamento da zona euro) — um alinhamento total com os tópicos constantes na agenda de trabalho do Eurogrupo.

Para Lagarde, é fundamental uma maior coordenação europeia na condução da política orçamental, “até para evitar sobrecarregar a política monetária”. “Estou convencida que devemos ter regras mais simples e eficientes, que podem ser complementadas por um instrumento orçamental para a zona euro”, afirmou, reconhecendo as dificuldades políticas poderão impedir que este novo instrumento possa ter uma função de estabilização.

Em resposta às questões dos eurodeputados sobre a eventual revisão do mandato do BCE e do seu código de conduta, e sobre os “efeitos secundários” das políticas macroeconómicas e das medidas excepcionais dos últimos anos, Christine Lagarde disse que os factores que obrigaram a seguir a linha actual “não desapareceram” e chamou a atenção para os riscos com que a economia da zona euro se confronta, nomeadamente relacionados com a instabilidade geopolítica, a iminência do “Brexit” e a perspectiva de uma guerra comercial global.

“Só posso dizer que concordo com a visão do conselho de governadores de que será preciso prolongar por mais algum tempo a actual política para assegurar a estabilidade de preços”, referiu. No entanto, a candidata à presidência do BCE prometeu mais “agilidade” na resposta aos desafios — como a fragmentação da actual ordem multilateral, o impacto das mudanças tecnológicas ou as alterações climáticas.

Aliás, na sua intervenção, Christine Lagarde não ignorou o novo contexto político que resultou da votação europeia de Maio passado: a francesa fez inúmeras referências à necessidade de integrar o combate às alterações climáticas no mandato do Banco Central, prometendo integrar a análise dos riscos carbónicos nas avaliações dos supervisores ou investir na compra de títulos verdes.

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