Dicas para não estar preso à tecnologia

Da privacidade ao consumo, alguns truques simples para dominar os equipamentos que o rodeiam (antes que eles o dominem a si).

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Emilija Manevska/Getty Images

A grande maioria das pessoas tem pelo menos um equipamento electrónico consigo desde o momento em que acorda até ao minuto em que se deita. Algumas estão rodeadas de muitos mais, desde as pulseiras desportivas às colunas inteligentes, passando pelo computador onde trabalham várias horas por dia.

Os smartphones trouxeram uma conectividade constante. As redes sociais estão construídas para captar a atenção dos utilizadores. E serviços como o Spotify, o Netflix e o YouTube transformam qualquer momento numa possibilidade de ouvir música ou ver um mais um vídeo. Tudo isto trouxe benefícios e comodidades – mas não é à toa que a ideia de estar offline já se tornou negócio turístico. Eis algumas dicas para uma relação saudável com a tecnologia.

Não compre a novidade

Raramente um utilizador comum precisará das mais recentes funcionalidades e capacidades de desempenho de um equipamento, seja ele qual for. E ainda mais raramente precisará delas no exacto momento em que chegam às lojas.

Os números mostram que muitos consumidores estão a prolongar o tempo de vida dos telemóveis, o que não é alheio ao facto de os novos modelos não serem radicalmente diferentes dos anteriores. É uma atitude que tem uma vantagem tripla: é mais ecológico, mais económico e potencialmente mais seguro.

Comprar um equipamento um ou dois anos depois de ter saído significa comprá-lo mais barato – às vezes, muito mais barato. Mas significa também que o produto já foi testado por milhares de consumidores e já podem ter sido encontradas (e corrigidas) falhas, incluindo eventuais vulnerabilidades de segurança.

Cookies, mas não para sempre

Estar online exige um compromisso no que à privacidade diz respeito. Os prestadores de serviço vão sempre querer fazer dinheiro com anúncios e, hoje em dia, isso implica saber algo sobre os utilizadores. Mas há alguns passos que podem ser dados para minimizar a informação que é partilhada sem regressar à Internet dos anos 1990.

Abdicar inteiramente de cookies – os afamados pequenos ficheiros que empresas usam para seguir e obter informação dos utilizadores – é uma opção drástica, que pode fazer com que alguns serviços deixem de funcionar bem. Uma solução de compromisso é configurar o browser para apagar os cookies de cada vez que é fechado, uma funcionalidade disponível em vários browsers, tanto em computadores como telemóveis.

Activar aquela opção significa que será preciso fazer login em vários serviços (como o Gmail, o Facebook ou – se tiver conta – o site do PÚBLICO) de cada vez que se está a usar novamente o browser. Mas recorrendo à funcionalidade de guardar palavras-passe é uma questão de poucos cliques, cujo breve incómodo é compensado pela refrescante sensação diária de que aquele site não sabe sempre quem somos.

Outra medida simples é usar um browser que não seja de uma grande empresa como o Google (que tem o Chrome), a Apple (Safari) ou a Microsoft (Edge). A escolha mais óbvia é o Firefox (outra alternativa é o Opera), que traz várias opções de privacidade simples de activar.

Redescobrir o silêncio – e o tédio

Lembra-se de quando lavar a louça, fazer compras ou simplesmente andar na rua não implicava estar de auriculares a ouvir música ou um podcast? E de quando ninguém considerava um gesto de semi-cortesia tirar um dos auriculares para interagir com a pessoa ao balcão?

Os telemóveis tornaram-se máquinas quase perfeitas para aproveitar os momentos mortos – como as esperas em consultórios ou nas filas dos supermercados – ou para aproveitar o tempo passado em tarefas pouco prazenteiras (e o PÚBLICO oferece vários podcasts). Mas estar constantemente a absorver informação e entretenimento pode não ser o ideal para o cérebro.

É verdade que os humanos parecem ser tão avessos ao tédio – definido por académicos como “a experiência adversa de querer, mas não conseguir, envolver-se numa actividade satisfatória” – que há quem prefira dar choques a si próprio do que ficar numa sala fechado sem fazer nada durante alguns minutos, como já aconteceu numa experiência feita por investigadores em Psicologia.

Porém, há estudos a indicar que o tédio ajuda a criatividade e pelo menos um a afirmar que pode tornar as pessoas mais altruístas. Em mais do que uma experiência, participantes a quem fora dada uma tarefa aborrecida tiveram depois mais sucesso em tarefas criativas. “Ao motivar o desejo de mudança do estado corrente, o tédio aumenta as oportunidades de obter estimulações sociais, cognitivas e emocionais, e experiências que poderiam ter sido desperdiçadas”, argumenta um dos muitos estudos sobre o assunto.

Tire os olhos (e os dedos) do ecrã

A recomendação de fazer pausas é dada com frequência por oftalmologistas (mais especificamente, tirar os olhos do ecrã a cada 20 minutos e olhar pelo menos 20 segundos para um ponto distante).

Mas olhar constantemente para o ecrã não é só uma questão de saúde oftalmológica – tem efeitos estudados na qualidade do sono e é também o resultado de um quase reflexo para verificar constantemente notificações e redes sociais, num hábito com consequências para os tempos de atenção e a capacidade de concentração (e que, há quem argumente, impede o desenvolvimento de empatia nas crianças).

Há aplicações e funcionalidades para contabilizar e tentar reduzir o tempo que passa a mexer no telemóvel. Colocar o ecrã a preto e branco também ajuda a tornar as fotografias do Instagram e os vídeos engraçados muito menos apelativos.

Uma boa opção, e que não requer muito esforço, é deixar o aparelho fora do quarto em que dorme. Um truque é colocar um carregador numa tomada noutra divisão da casa e definir esse local como o ponto de carregamento do telemóvel, onde este ficará a noite toda. Se precisar de ver as horas durante a noite, ou de um despertador, um relógio na mesinha de cabeceira resolve o problema (embora, com o volume certo, um telemóvel a despertar noutra divisão da casa seja um forte incentivo para sair da cama).

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