Trofa Saúde garante que “não desistiu” de hospital no Porto Oriental

Construção do hospital privado em Campanhã está avançada, mas a construtora e o Grupo Trofa desentenderam-se. Há uma acção em tribunal. Mas unidade de saúde privada diz não abdicar do projecto

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Hospital fica no fundo da Avenida 25 de Abril, a poucos minutos do estádio do Dragão Nelson Garrido

O Grupo Trofa Saúde “não só não desistiu, como não abdicará” do hospital já em estado avançado de construção no fundo da Avenida 25 de Abril, em Campanhã, no Porto. A garantia foi dada esta segunda-feira e vem contradizer uma notícia avançada há duas semanas e confirmada pelo PÚBLICO junto de várias fontes, como o presidente da junta de freguesia local. 

“O hospital em causa está incluído no plano de expansão em curso, sendo um projecto estratégico para o Grupo Trofa Saúde e de fundamental importância para a freguesia de Campanhã e, consequentemente, para a cidade do Porto”, refere o comunicado que vem pôr fim a um silêncio com vários dias. 

Uma desavença entre a construtora Alexandre Barbosa Borges e o Grupo Trofa Saúde está na origem do problema. O Jornal de Negócios desta segunda-feira avança mais pormenores sobre o caso, onde a unidade de saúde privada sobe o tom das acusações e fala de um “manancial de patifarias”, em “conluio” e “trafulhice”. Foi por isso, adiantam num comunicado, que fizeram seguir o caso para a justiça: “De modo a assegurar a instalação do referido Hospital, o Grupo Trofa Saúde interpôs uma acção judicial a 2 de Maio de 2019, que corre junto do Tribunal Judicial da Comarca de Braga.”

Segundo o mesmo jornal, o contrato-promessa de arrendamento do imóvel, assinado a 7 de Maio de 2014, previa a construção de um edifício com “16 a 18 mil metros quadrados de área bruta de construção, acrescido de um mínimo de 400 lugares de estacionamento”. No contrato, a ABB comprometia-se em realizar a obra e obter a licença de utilização, ficando o Trofa Saúde como arrendatário do edifício “pelo prazo de 20 anos, renovável sucessivamente por períodos de cinco anos”. A renda seria de 130 mil euros mensais no primeiro ano, subindo até aos 165 mil.

O grupo hospitalar privado acusa a construtora de sucessivos incumprimentos, que adiaram o arranque da obra para o início de 2018. Mas o problema maior viria depois: fazendo tábua rasa do contrato-promessa, a ABB terá vendido os imóveis, por três milhões de euros, a uma sociedade cujos donos são Domingos Névoa e o filho Bruno Névoa, do Bragaparques. Um acto de “má-fe”, acusam na acção judicial consultada pelo Jornal de Negócios, parte de um “esquema fraudulento”.

Para o Trofa Saúde, o objectivo desta venda passará por “facilitar ou possibilitar outro negócio mais adiante, com outro player do mercado hospitalar, onde ambas as empresas ganhariam de certo muitos milhões de euros”. A acção judicial pretende anular o suposto negócio com outra empresa. Mas se tal não for possível, o Trofa Saúde exige uma indemnização de 2,5 milhões de euros. 

O “esqueleto” do imóvel está praticamente concluído. Quando a notícia foi avançada, a 22 de Agosto, fontes consultadas pelo PÚBLICO falavam exactamente na possibilidade de ali se instalar um outro grupo de saúde privado. 

Nessa mesma altura, o presidente da junta de freguesia de Campanhã, Ernesto Santos, dizia ter também a informação de que já não haveria hospital naquela zona oriental da cidade. Embora não tenha havido uma comunicação formal ao seu executivo, o socialista apercebeu-se de que a obra estava parada há já algum tempo ao passar no local, a poucos minutos da sede da junta.

Por outro lado, o gabinete de comunicação da câmara limitava-se a adiantar não ter dado entrada no gabinete de urbanismo qualquer pedido de alteração ao licenciamento feito para aquele terreno. A única informação que podiam avançar era a de que a proprietária do edifício continuava a ser a construtora ABB.

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