Legendas em audiolivros…“E esta, hein?”

A Audible defende que “as legendas” dão contexto e ajudam quem está a ouvir. Os editores consideram que os excertos de textos gerados por inteligência artificial geram erros gramaticais e de ortografia e em vez de ajudarem a leitura estão a fazer “um desserviço” aos autores, editores e aos leitores.

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E se alguém se lembrasse de colocar legendas em audiolivros? Confuso? Foi isso que aconteceu com a Audible, a empresa de audiolivros da Amazon, que teve esta ideia e pretendia lançar o novo serviço, a que chamou Audible Captions, no início do ano lectivo neste mês de Setembro nos Estados Unidos.

Mas os principais grupos editoriais norte-americanos, como a Chronicle Books, a ​Hachette Book Group, a HarperCollins Publishers, o Macmillan Publishing Group, a Penguin Random House, a Scholastic e a Simon & Schuster, consideraram que este recurso a legendas geradas por inteligência artificial viola os direitos de autor. E através da Association of American Publishers (AAP), os editores colocaram no passado dia 23 de Agosto um processo à Audible para a impedir de incluir obras das suas editoras neste programa. Entretanto a Audible decidiu adiar o lançamento de “legendas nos audiolivros” nas obras cujos direitos pertencem a estas editoras até que no próximo dia 25 de Setembro um juiz decida quem tem razão.

Num vídeo disponível online, Richard Stern, da Audible, explica que foi por causa do projecto Listen Up, que oferecia assinaturas desta plataforma de venda de audiolivros a estudantes de liceu em Newark, nos EUA, que perceberam que os jovens norte-americanos preferiam usar a Audible no telemóvel (a plataforma também está disponível no tablet e no computador) e que queriam ouvir os audiolivros tal como vêem televisão: com a ajuda de legendas.

Por isso o programa permite que à medida que se vai ouvindo um audiolivro (a maior parte das vezes lido por actores profissionais ou em alguns casos pelos próprios autores) se leia com um ligeiro atraso no ecrã do telemóvel algumas linhas que transcrevem o que se está a ouvir. A Audible defende que “as legendas” dão contexto e ajudam quem está a ouvir, pois ao carregar-se numa das palavras que aparecem no ecrã pode ver-se qual o seu significado — num dicionário ou na respectiva entrada na Wikipédia. Os editores dizem que o programa transcreve “todas as palavras” do livro que ouve ( e na verdade é isso que se vê no vídeo de promoção)  e lembram que a Audible admitiu que 6% dos textos podem conter erros de transcrição.

“Hoje, somos confrontados com a primeira geração de não-leitores da nossa história, com menos de 20 por cento dos adolescentes norte-americanos a afirmarem que leram um livro, uma revista ou um jornal diário por prazer. Estamos empenhados em fazer o que nos seja possível para lidar com este problema”, escreve Don Katz, o CEO da Audible, num comunicado que pode ser lido online defendendo este serviço.

As editoras norte-americanas, por sua vez, consideram que a Audible não pode disponibilizar os textos dos livros porque a reprodução de áudio e a de texto têm licenças separadas e eles só compraram os direitos do áudio. Por sua vez, a Audible diz que não está a gerar PDF de livros completos e que “não se trata de um livro” mas sim de pedaços de texto gerados por uma máquina. Os editores acham a situação “muito preocupante”, pois os excertos de textos gerados por inteligência artificial geram erros gramaticais e de ortografia e em vez de ajudarem a leitura estão a fazer “um desserviço” aos autores, editores e aos leitores.

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