Paz será tema dominante da visita do Papa a Moçambique

“Pode ser que as diplomacias internacionais se interessem mais pelo caso de Moçambique”, após a visita do sumo pontífice, disse o padre Tony Neves, do conselho geral dos Missionários do Espírito Santo.

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Em Maputo já se vendem capulanas alusivas à visita do Papa Francisco Siphiwe Sibeko/REUTERS

A paz será um tema dominante da visita do Papa Francisco a Moçambique, entre 4 e 6 de Setembro, no âmbito de uma viagem pela África Oriental que abrange também Madagáscar e Ilhas Maurícias.

“A questão do processo de paz, com o protocolo agora assinado [a 6 de Agosto] e a sua implementação, bem como os danos colaterais de posições assumidas pelos militares da Renamo já após o acordo terão de ser alvo de conversas”, disse à Lusa o padre Tony Neves, do conselho geral dos Missionários do Espírito Santo, em Roma, um conhecedor da realidade de África e, em particular de Moçambique, onde viveu muitos anos.

Esta viagem papal pode ser importante para consolidar a paz em Moçambique, considera o padre Tony Neves, chamando a atenção internacional para o acordo de paz assinado entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição e a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder – mas que é contestado por uma ala militar da força minoritária.

“Pode ser que as diplomacias internacionais se interessem mais pelo caso de Moçambique”, referiu o Padre Tony Neves. “Se houver uma conjugação de esforços talvez essa paz tenha condições para se sedimentar.” O padre admitiu ainda que o Papa poderá “ter encontros a sós com ambas as partes”, mas assegura que a decisão do Papa de visitar Moçambique foi tomada antes da assinatura do último Acordo de Paz.

“As pessoas estão um bocadinho mais pacificadas e o acordo de paz último também terá dado mais um bocadinho de confiança às pessoas, mas ainda há os problemas no Norte, com os ataques de grupos que não se sabe quem são” e a questão dos militares da Renamo, comentou o padre Tony Neves. Estas ameaças têm de ser resolvidas. “Não sei qual é a real força destes militares [da Renamo que já disseram que não aceitam o acordo assinado a 6 de Agosto], mas acho que se sentiram ultrapassados pela própria negociação. A verdade é que os militares, quer de um lado quer do outro, estavam a lucrar muito com a guerra”, afirmou.

“O que este protocolo de paz veio confirmar foi a extensão da governação, do Governo central, a todo o território de Moçambique”, concluiu.

Quanto aos ataques de grupos anónimos armados no Norte de Moçambique, na zona de Cabo Delgado, defende que “não serão motivos ligados à religião” que os movem, mas são um grande foco de instabilidade, que ameaça também a economia. “Não há muita convicção de que sejam armados por questões religiosas”, afirmou o padre Tony Neves.

“Ninguém percebe muito bem como esses grupos aparecem, não se sabe de onde vêm nem para onde vão, nem quem lhes paga. E a única coisa que se sabe é que as autoridades locais não fazem nada. E não fazem nada porquê? Porque não podem?”, questionou o padre.

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