As emoções também vão à escola!…

O sistema escolar constitui-se como elemento preponderante para o crescimento pessoal e social, quer pelo facto de as crianças e jovens lá passarem muito tempo, quer pela sua missão inerente.

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Os alunos do estado do Oregon nos Estados Unidos da América, quando voltarem à escola, poderão invocar razões de saúde mental para justificar faltas pontuais. Trata-se, na realidade, do reconhecimento do impacto negativo que as questões de saúde mental exercem no microssistema escolar e no macrossistema social, colocando-as pelo menos ao mesmo nível das de ordem física. Deixará de ser necessário fingir uma grande dor de barriga ou colocar o termómetro na luz para aquecer!…

Partindo desta premissa, parece-nos fulcral reconhecer o papel que a escola detém, como agente de desenvolvimento pessoal e social. O contexto de crescentes desafios, como o insucesso escolar, a indisciplina e principalmente a necessidade de adaptação a uma nova realidade social, deverá motivar a adoção de práticas nas escolas que concorram para o crescimento global dos alunos, para o estabelecimento de um clima de escola positivo e, consequentemente, para o desenvolvimento de cidadãos críticos, participativos e principalmente mais felizes.

Como?

Adotando um conjunto de estratégias que valorizem a componente socioemocional através de diversas abordagens:

Criando conteúdos específicos para o desenvolvimento das competências de forma explícita;

  • Dotando/sensibilizando os professores e educadores para a adoção de práticas e metodologias assentes no conhecimento acerca do desenvolvimento infantojuvenil e das investigações oriundas de ciências como a neurologia;
  • Integrando os conteúdos da aprendizagem socioemocional no curriculum das disciplinas;
  • Promovendo estratégias organizacionais, ao nível dos projetos educativos e do plano anual de atividades, que valorizem um clima e cultura de escola facilitador da aprendizagem.

Promovendo uma avaliação sistemática dos impactos das medidas adotadas.

Esta mudança só é possível quando se valorizar, verdadeiramente, a componente social e emocional, colocando-a ao mesmo nível da componente estritamente cognitiva. No fundo, é reconhecer que o conhecimento está longe de se esgotar num teste que se faz num dia e hora marcados…

Que competências devemos ensinar?

De acordo com o ​Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL), entidade fundada por diversos notáveis e académicos entre os quais, Daniel Goleman – autor, entre outros, de Inteligência Emocional –, “a aprendizagem socioemocional é o processo através do qual cada pessoa (criança/adulto) interpreta e gere as suas emoções, define e alcança os seus objetivos, sente e demonstra empatia pelos outros, estabelece e mantém relações positivas e toma decisões responsáveis”.

Partindo deste enquadramento, o CASEL identifica cinco competências centrais para o bem-estar socioemocional, que se detalham em seguida:

  • Consciência de si: reconhecimento das suas emoções e valores, bem como o seu impacto no seu comportamento. Isto inclui a capacidade de avaliar as suas limitações e potencialidades. Envolve confiança e otimismo;
  • Gestão pessoal: capacidade de regular as suas emoções, pensamentos e comportamento. Inclui a gestão do stress, o controlo de impulsos, capacidade de se motivar bem, como a definição de objetivos pessoais e sociais (académicos/profissionais).
  • Consciência social: capacidade de ser empático, entender os diversos pontos de vista com o intuito de compreender as normas éticas e sociais para o comportamento, bem como reconhecer os diversos recursos disponíveis (familiares, escolares e comunitários).
  • Competências interpessoais: capacidade de estabelecer e manter relações saudáveis. Isto inclui comunicar claramente, escuta ativa, cooperar, resistir à pressão social negativa, negociar construtivamente, bem como procurar e dispor-se a ajudar quando necessário.
  • Tomada de decisão responsável: capacidade de tomar decisões construtivas acerca do seu comportamento pessoal e ter interações sociais assentes em pressupostos éticos, normas sociais e preocupações de segurança, tendo em consideração uma avaliação realista das consequências dos diversos atos, bem como o bem-estar pessoal e dos outros.

Numa sociedade do “culto do eu primeiro”, uma ética da compaixão e as denominadas “soft skills” – resiliência, empatia, capacidade de colaborar com os outros… – afiguram-se como constituintes decisivos para o desenvolvimento de uma sociedade com mais saúde mental e, consequentemente, mais apta para aprender. Neste contexto, o sistema escolar constitui-se como elemento preponderante para o crescimento pessoal e social, quer pelo facto de as crianças e jovens lá passarem muito tempo, quer pela sua missão inerente.

Diferentes autores identificam outras competências como centrais ao desenvolvimento; não obstante, os diversos estudos demonstram impactos positivos da implementação destes programas de desenvolvimento socioemocional e cognitivo na diminuição dos conflitos e no incremento dos resultados escolares – constituindo-se, em muitos casos, como melhores preditores do sucesso financeiro e social do que o próprio QI.

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