Os ladrões demoraram 40 minutos a roubar as jóias da coroa portuguesa e não foram apanhados

Quase 17 anos depois do roubo, a PJ mantém as fotografias das seis peças de joalharia na sua página da Internet.

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As jóias pertenciam ao espólio do Palácio Nacional da Ajuda e foram emprestadas pelo Estado português ao museu de Haia, na Holanda, de onde foram roubadas a 2 de Dezembro de 2002.

Faz este ano 17 anos que, em cerca de 40 minutos, os ladrões levaram daquele museu as jóias da coroa portuguesa: um diamante de 135 quilates, um castão de bengala em ouro e com 387 brilhantes, um anel com um diamante de 37 quilates, uma gargantilha em ouro e prata com 32 brilhantes, e dois alfinetes em forma de trevo com diamantes e brilhantes.

Para trás, apenas deixaram um martelo que as autoridades holandesas nunca conseguiram ligar a coisa nenhuma. A investigação chegou ao fim em 2009. Terminou sem ladrões e sem jóias.

Na página da Policia Judiciária (PJ) portuguesa, na internet, ainda é possível encontrar as fotografias das seis peças desaparecidas.

Porque ainda lá estão? Domingos Lucas, Chefe da Brigada das Obras de Arte da PJ, explica que há várias razões. Uma delas é esperança em recuperar as jóias todas ou parte delas, baseada na experiência. “Já conseguimos recuperar obras que tinham sido roubadas há mais de 30 anos”, contou, dando como exemplo uma nossa senhora da Conceição que tinha sido roubada de uma capela particular antes do 25 de Abril.

“Foi encontrada durante uma fiscalização a um antiquário”, na rua de S. Bento, em Lisboa”, disse, acrescentando que há mais exemplos.

Segundo Domingos Lucas, as pistolas de duelo do Rei D. Pedro também estiveram desaparecidas 40 anos. Tinham sido roubadas do museu Militar e foram localizadas na Europa quando figuraram no catálogo de vendas de uma leiloeira.

“Como foram adquiridas por um alemão, na altura, o caso foi para Tribunal”, contou o inspector, acrescentando que o Tribunal Alemão acabou por decidir a favor do proprietário alemão por ser considerado terceira pessoa de boa fé, ou seja, quando adquiriu não sabia que estava a comprar bens roubados. E a PJ teve de desistir, pelo menos, nesta altura.

Porém, anos mais tarde, as pistolas vieram parar a uma leiloeira em Portugal e a PJ foi lá buscá-las. Foram devolvidas ao museu.

Outro caso de recuperação de obras foi o de um painel de azulejos. “Foi roubado em 2002 do palácio de Belmonte e encontramo-lo em 2018 no âmbito de uma outra investigação”, disse.

“Temos uma grande base de dados onde estão carregadas as imagens de obras e jóias furtadas quer em Portugal quer no mundo e que nos são comunicadas por autoridades internacionais”, explica Domingos Lucas, que sublinha o facto da brigada das Obras de Arte estar sempre atenta ao mercado e de fazer fiscalizações - não tantas como queria porque tem falta de recursos humanos - aos comerciantes, nomeadamente os antiquários, que estão obrigados a enviar, todas as semanas, uma relação dos bens que compram, a quem e o valor.

No que diz respeito às jóias da Coroa Portuguesa que foram roubadas na Holanda, Domingos Lucas explica que este tipo de material tem mais valor se não for derretido ou desmanchado e que o mais certo é estarem na posse de um coleccionador.

“Já o diamante pode ter sido lapidado”, afirmou, sublinhando que, normalmente quando se roubam diamantes eles voltam a ser lapidados para não serem reconhecidos no mercado.

Sobre o que aconteceu na madrugada de 2 de Dezembro de 2002, no museu de Haia, o inspector diz que permanece num mistério e que algo falhou quer do lado de Portugal, quer da Holanda, no que diz respeito à segurança daquelas jóias.

Como o roubo ocorreu na Holanda foram as autoridades holandesas que investigaram. Segundo as várias reportagens feitas sobre o assunto entre 2002 e 2015, os ladrões entraram por uma janela do museu que por acaso estava muito perto da central de segurança e foram directos à sala do tesouro onde estavam as jóias da coroa portuguesa. Entraram na sala pela porta de saída e com o martelo, que depois foi encontrado, partiram os seis expositores de vidro onde estavam as peças reais.

Os alarmes do museu não tocaram quando entraram pela janela. As câmaras não estavam ligadas à sala da central de segurança e os alarmes dos expositores também não. Como a sala do tesouro foi construída de propósito para receber as jóias e ocorreram estas falhas nos alarmes e câmaras, as autoridades acreditam que o roubo foi planeado com muita antecedência.

Em 2006, Portugal recebeu uma indemnização de 6,1 milhões de euros pela perda das jóias históricas.

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