Bolsonaro teve conversa “franca e amistosa” com Costa sobre a Amazónia

O porta-voz da Presidência da República do Brasil revelou ao semanário Sol o objetivo do telefonema de Bolsonaro.

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Reuters/ADRIANO MACHADO

Foi o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, quem ligou — e a conversa com António Costa foi “bastante franca e amistosa”. O objectivo era, em plena de guerra de palavras com Emmanuel Macron por causa dos incêndios na Amazónia, dar ao primeiro-ministro português uma “leitura objectiva” e com “dados reais”, segundo revela este sábado o porta-voz da Presidência da República do Brasil, Otávio Rêgo Barros, em declarações do semanário Sol.

A conversa aconteceu na quarta-feira, dia 28, depois de Bolsonaro ter exigido um pedido de desculpa ao homólogo francês, a quem acusou de ter uma mentalidade de colonizador. António Costa já tinha dito que o Brasil precisava “de solidariedade e não de sanções”, e também tinha tentado afastar um possível boicote ao acordo alcançado entre a União Europeia e o Mercosul para o comércio. É nesse contexto que surge o telefonema do presidente brasileiro.

“O Presidente Bolsonaro fez questão de instituir uma conversa bastante franca e amistosa com o primeiro-ministro português para transmitir, com uma leitura objectiva, dados reais da situação de queimadas e incêndios que estão ocorrendo nos Estados abrangidos pela área conhecida como ‘Amazónia Legal'”, explica Rêgo Barros ao Sol. Isto para evitar “informações alarmistas, às vezes mesmo desinformações”, acrescenta.

O porta-voz da Presidência da República do Brasil assume ainda que o contacto serviu para mostrar que o Brasil está aberto ao diálogo, mas também para reafirmar a importância do acordo entre UE e Mercosul para ambos os países. Do lado português, garante, encontrou solidariedade: “O primeiro-ministro se solidarizou com o Presidente brasileiro pelo momento vivido no Brasil.”

Após notícias em todo o mundo sobre os incêndios e desflorestação na Amazónia, França, Irlanda e Finlândia puseram em causa o acordo entre UE e Mercosul, que demorou 20 anos a ser negociado. António Costa, por outro lado, disse ao PÚBLICO que Portugal “sempre se bateu por este acordo” e que vai empenhar-se para que seja cumprido, com as “preocupações e objectivos” de “salvaguarda dos ecossistemas”. Internamente, as declarações de Costa foram criticadas pelo BE e pelo PAN, que pedem uma condenação vigorosa das políticas ambientais de Bolsonaro.

A crise na Amazónia — onde este é já o pior ano a nível de incêndios desde 2010, depois de vários alertas sobre a crescente desflorestação — também se transformou numa crise diplomática, com Bolsonaro a recusar os 18 milhões de euros de ajuda para a Amazónia, do G7, e várias ameaças de boicote a produtos brasileiros. O Presidente brasileiro esclareceu depois que não tinha recusado o apoio e que pondera voltar ao diálogo, ao mesmo tempo que anunciou uma série de medidas para combater os incêndios e apaziguar as críticas.

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